Por Afonso Benites/EL País
O lance mínimo da concessão da ferrovia Norte-Sul, cujo o leilão ocorre nesta quinta-feira na Bolsa de Valores de São Paulo, deveria ser quase três vezes maior do que o que está previsto no edital. Para obter o contrato de operação do trecho central da ferrovia, considerada a espinha dorsal do desenvolvimento logístico do país, é necessário dar um lance pelo menos 1,3 bilhão de reais. Porém, o estudo que embasou a definição desse preço definido pelo Governo federal previa que esse trecho da ferrovia deveria ter a outorga mínima de 3,8 bilhões de reais. Este levantamento, chamado de estudo de avaliação econômica, é público. Foi elaborado em 2008 pela VALEC, a estatal responsável pelo planejamento e execução do sistema ferroviário brasileiro. Se os valores fossem atualizados, o lance deveria ser de 6,5 bilhões de reais.
Governo Jair Bolsonaro (PSL) de ir à frente com o plano. O Planalto ignorou a solicitação de adiamento do leilão, assinou um acordo com o MPF e viu o ministro Augusto Nardes, conselheiro do Tribunal de Contas da União, acatar todos os argumentos do Ministério da Infraestrutura, e garantindo a realização da disputa.
A principal suspeita é a de que o leilão favoreceria a mineradora Vale ou uma empresa vinculada a ela. A principal delas é a VLI Multimodal S.A., uma das duas empresas que apresentaram propostas no leilão. Ela é uma companhia com participação da Vale, da Mitsui, da Brookfield do Fundo de Investimentos do FGTS. A outra hipótese era de que a outra beneficiada seria a Rumo Logística, a segunda empresa que apresentou um lance inicial. Esta é vinculada ao grupo Cosan. Uma terceira empresa, a MRS, que tem participação da Vale, não entregou propostas.
Como o edital não deixava explícito de que maneira se daria o direito de passagem, que é uma espécie de garantia para acessar os dois portos alcançados pela Norte-Sul, companhias estrangeiras acabaram se afastando da disputa e a deixando limitada. O acesso ao porto de Santos, na região Sudeste, é feito pela Malha Paulista, uma ferrovia que é concedida à Rumo. E ao porto de Itaqui, no Nordeste, é feito por duas ferrovias, a primeira etapa da Norte-Sul e a Estrada de Ferro Carajás. A primeira é controlada pela VLI e a segunda, pela Vale. Ao menos um grupo chinês e um russo estudaram participar do certame, mas desistiram.
