O risco do rompimento de novas barragens após o desastre de Brumadinho, na Grande BH, já atingiu nove comunidades em Minas. Em apenas 13 dias, exatas 971 pessoas foram obrigadas a deixar as casas. Ontem, moradores do condomínio de luxo Solar da Lagoa e do vilarejo Rio do Peixe, na zona rural de Nova Lima, precisaram ser retirados. Além deles, moradores de Miguel Burnier e Pires, em Ouro Preto, foram levados para hotéis, sem data de retorno para os antigos endereços.
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As evacuações começaram no início de fevereiro, levando pânico também aos povoados de Socorro, Tabuleiro e Piteiras, em Barão de Cocais, e a Pinheiros, em Itatiaiuçu, municípios da região Central do Estado. No último sábado, moradores de Macacos, distrito de Nova Lima, viveram a mesma tensão.
Em todos os casos, as barragens são construídas no método de alteamento a montante, o mesmo do reservatório da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, que se rompeu em 25 de janeiro, deixando 171 mortos.
No complexo de Rio do Peixe, o medo é que a Barragem Vargem Grande – que acumula mais de 9 milhões de metros cúbicos de rejeitos do minério de ferro – atinja todas as residências no caso de uma tragédia.
A dona de casa Maria das Dores, de 56 anos, precisou, em meio ao sufoco, garantir a segurança da mãe, que é acamada e teve que ser levada até o ponto de encontro estabelecido pela mineradora. “Não consigo nem falar direito. Disseram que temos só duas horas para estar na capela com tudo. Vou lá fechar a casa correndo e dar um jeito de tirar minha mãe”, contou.
Bomba-relógio
Em Minas, 42 barragens foram construídas com alteamento a montante e, do total, 30 têm “alto dano potencial associado”. Isto significa que podem provocar desastres em caso de rompimento, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Para especialistas, o cenário é preocupante, vez que o processo de descomissionamento dos reservatórios é lento. Professor do curso de engenharia mecânica da Universidade Federal de Itajubá e da pós-graduação em engenharia hidráulica da UFMG, Carlos Barreira Martinez explica que o clima de apreensão pode durar até dez anos.
“A situação é lamentável, há barragens com alteamento a montante em muitas regiões urbanas e não podemos mais nos dar ao luxo de perder vidas”, argumenta. “Há inúmeros profissionais qualificados dentro dessas companhias e eles têm total conhecimento do problema há tempos”, afirma o professor.
A Vale foi procurada, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) também não deu retorno.
