Após manifestações #EleNão, Bolsonaro cresce no eleitorado feminino

A primeira pesquisa de intenções de voto do Ibope divulgada após as manifestações #EleNão, organizadas por mulheres contra Jair Bolsonaro (PSL), mostram crescimento do candidato ao presidente no eleitorado feminino. A matéria continua após a publicidade De acordo com a sondagem divulgada na última segunda-feira (1º), o presidenciável subiu 6 pontos percentuais nesse grupo. Passou de 18% das intenções de voto das brasileiras em 26 de setembro para 24% na pesquisa mais recente. O deputado, contudo, continua a ter popularidade maior entre homens, onde tem 39% das intenções de voto. No geral, o indicador cai para 31%. A rejeição de Bolsonaro entre mulheres, por sua vez, oscilou de 52% para 51% no mesmo intervalo entre as pesquisas. Ele continua, contudo, sendo o candidato ao Palácio do Planalto menos popular entre o eleitorado feminino. Apesar de rejeitado, a adesão feminina a Bolsonaro fez com que ele conquistasse, por outro lado, a liderança de votos nesse grupo, antes com Fernando Haddad (PT). Em 26 de setembro, o petista superava o deputado entre as brasileiras, com 21% das intenções de voto femininas. Agora oscilou para 20%. A rejeição do ex-prefeito de São Paulo entre mulheres ainda é menor que a de seu opositor, apesar de ter aumentado de 20% para 33% neste intervalo. As entrevistas domiciliares do Ibope foram iniciadas no último sábado (29), data em que milhares de mulheres foram às ruas contra o candidato, em todos os estados brasileiros. Também foram registrados protestos em cidades estrangeiras, como Berlim, Londres, Barcelona, Paris e Nova York. Números oficiais de participantes não foram divulgados pela Polícia Militar nos estados, mas em São Paulo, local de maior concentração, organizadoras estimam que 500 mil tenham participado.
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Em São Paulo, 80% dos manifestantes do ato contra Bolsonaro se declararam de esquerda e 89% feministas.
Nas ruas, brasileiras defenderam um Brasil igualitário, sem machismo, racismo e LGBTfobia. "A gente quer propagar o amor e a igualdade e não a violência e a ignorância. É nosso dever fazer isso porque temos que manter direitos e com esse candidato a gente vê que esses direitos podem ser tirados de nós. A gente está aqui também para as futuras gerações", afirmou Clarissa Paiva, 30, artista plástica e ilustradora, no protesto em Brasília. Os atos nasceram do grupo do Facebook Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, que já conta com mais de 3,8 milhões de integrantes, mesmo após ataques por parte de apoiadores do presidenciável. Réu por injúria e incitação ao estupro, o candidato admitiu, em 2016, que não pagaria a uma mulher o mesmo salário pago a um homem. Também afirmou que sua filha caçula, única mulher, foi uma "fraquejada". Ele também foi acusado pela ex-esposa, Ana Cristina Valle, de ameaça de morte em 2011. Após a publicação de reportagens sobre as investigações, ela negou a história.

Quem foi às manifestações do #EleNão

Há limitações ao alcance da mobilização contra o parlamentar. De acordo com levantamento realizado pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP (Universidade de São Paulo), em São Paulo, a maioria dos manifestantes eram mulheres (62%), entre 18 e 34 anos (58%) e brancas (62%). Também foram observados elevado nível de escolaridade (86% com Ensino Superior) e renda, que se concentrou na faixa de 3 a 10 salários mínimos. Foi a manifestação em que esses dois últimos indicadores atingiram níveis mais altos entre todas medições em protestos feitas pelos pesquisadores desde 2015. O desrespeito aos direitos humanos (50%) e às mulheres (29%) foram as motivações determinantes para os participantes. Quanto à orientação política, 80% se declararam como de esquerda. Já 89% disseram ser feministas. Por outro lado, foi observada pouca adesão de parte do eleitorado ligado a Bolsonaro. Apenas 23% se declararam antipetistas e 3% disseram que participaram de atos a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Outros 20% se declararam conservadores e apenas 1% de direita. Na avaliação de um dos pesquisadores, o filósofo da USP Pablo Ortellado, o perfil homogêneo indica uma limitação do alcance da mobilização. "A convicção de se ter uma opinião e de sair à rua para expressá-la são de intensidades diferentes e teria sido um sinal mais claro de sucesso se a manifestação tivesse atraído mais pessoas despolitizadas ou de direita", escreveu. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o especialista destaca a dificuldade de diálogo entre os que combatem a candidatura de Bolsonaro e seus eleitores. Na avaliação dele, bolsonaristas se incomodam com "mudanças nos costumes trazidas pelos movimentos feminista e LGBT e veem essas transformações como uma ameaça à organização tradicional da família". Entre esse grupo, há também uma crença de que o Estado brasileiro dá proteções para eles consideradas injustas, como cotas raciais. "São as cotas que furam a fila dos alunos estudiosos, o Bolsa Família que premia quem não trabalha, e os direitos humanos que afagam os bandidos e descuidam das vítimas", escreve Ortellado. Especialista em redes sociais, o filósofo fez um monitoramento de publicações de eleitores do deputado para identificar esse perfil.
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Na manifestação contra Bolsonaro em São Paulo, apenas 23% se declararam antipetistas e 3% disseram que participaram de atos a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Outros 20% se declararam conservadores e apenas 1% de direita.

Bolsonaro x Haddad

Outro fator que influencia no alcance do #EleNão foi a forma como os atos foram noticiados pelas emissoras de televisão aberta. "As manifestações não tiveram cobertura ao vivo das emissoras de tevê aberta e receberam pouca cobertura nos telejornais. No Jornal Nacional, por exemplo, foram quatro minutos, contra onze dedicados à alta hospitalar de Bolsonaro e a entrevista de sua ex-mulher negando tudo o que havia acusado o ex-marido de ter feito e que ficou registrado no processo de separação de ambos", escreveu em artigo publicado na piauí o jornalista José Roberto de Toledo. A saída do hospital também aumentou a exposição de Bolsonaro na mídia. Na sexta-feira (28), véspera da alta hospitalar, o programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, exibiu uma entrevista de quase uma hora com o candidato. A exibição levou opositores a entrarem com representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para garantir tratamento igualitário. A lei eleitoral nº. 9.504/97 prevê que "encerrado o prazo para a realização das convenções no ano das eleições, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e em seu noticiário, (...) dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação". Por outro lado, presidenciáveis têm investido na campanha negativa contra Fernando Haddad, o que fortalece o antipetismo, movimento em que Bolsonaro capitalizou a maior parte dos votos. A fragilidade do ex-prefeito de São Paulo foi revelada na última pesquisa Ibope. As intenções de voto se mantiveram em 21%, mas a rejeição aumentou 11 pontos percentuais, de 27% em 26 de setembro para 38% em 1º de outubro. O indicador, contudo, é menor do que a rejeição geral de Bolsonaro, de 44%.

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