Sanções dos EUA: Lei Magnitsky é aplicada contra Ministro Alexandre de Moraes, impactando sua rotina e acesso a serviços globais

Em um movimento que reverberou intensamente nos meios jurídicos e políticos brasileiros, o governo dos Estados Unidos da América anunciou oficialmente na quarta-feira (30), a aplicação da Lei Global Magnitsky de Responsabilidade pelos Direitos Humanos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A medida, que possui uma forte base financeira, tem o potencial de impactar significativamente a vida pessoal e profissional do ministro, impedindo-o de realizar negócios com qualquer entidade ou cidadão norte-americano.

O Que é a Lei Magnitsky? Entenda o Alcance das Sanções

Lei Magnitsky é um poderoso instrumento legislativo norte-americano que confere ao governo dos EUA a prerrogativa de impor sanções econômicas a indivíduos estrangeiros acusados de corrupção significativa ou de graves violações de direitos humanos em qualquer parte do mundo. Originalmente criada em 2012 para punir oficiais russos envolvidos na morte do advogado Sergei Magnitsky, a lei foi globalizada em 2016, permitindo sua aplicação a qualquer nação.

Quais as Consequências Diretas para o Ministro?

As sanções previstas pela Lei Magnitsky são abrangentes e severas. Para Alexandre de Moraes, elas incluem:

  • Bloqueio de Ativos: Qualquer conta bancária, bem ou ativo que o ministro possua nos Estados Unidos será imediatamente bloqueado. Isso abrange imóveis, investimentos e quaisquer outros bens financeiros.
  • Restrição de Viagens: A revogação de seu visto de entrada e a proibição permanente de ingressar em território norte-americano.
  • Proibição de Transações Abrangente: O ponto mais impactante, conforme especialistas, é a proibição geral de todas as transações por cidadãos americanos ou dentro (ou em trânsito) dos Estados Unidos que envolvam quaisquer bens ou interesses em bens de pessoas bloqueadas.

Isso significa que cidadãos, empresas e instituições financeiras dos Estados Unidos estão estritamente proibidos de realizar qualquer tipo de transação com Alexandre de Moraes, seja fornecendo ou recebendo fundos, bens ou serviços. A proibição se estende a "qualquer contribuição ou fornecimento de fundos, bens ou serviços por, para ou em benefício de qualquer pessoa designada ou bloqueada, ou o recebimento de qualquer contribuição ou fornecimento de fundos, bens ou serviços de qualquer pessoa designada ou bloqueada", conforme o texto da legislação.

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Impacto na Rotina Digital e Acesso a Serviços Globais

Redes Sociais: O Dilema dos Aplicativos Gratuitos

Uma das grandes questões que surgiram com o anúncio foi o impacto nas plataformas digitais, especialmente as redes sociais, cujas empresas-mãe são majoritariamente sediadas nos Estados Unidos. O advogado especialista em direito digital, Marcelo Crespo, esclarece que a lei é "muito mais financeira que qualquer outra coisa", indicando que a proibição primária é sobre transações financeiras.

Ainda não há uma certeza absoluta sobre a desativação de perfis em redes sociais, especialmente considerando que muitos serviços são oferecidos gratuitamente. (Vale ressaltar que o ministro Alexandre de Moraes não possui perfis públicos ativos em redes sociais atualmente). No entanto, Crespo pondera: "Cada empresa, em tese, pode reagir de forma diferente com relação a este caso, mas é possível que estas empresas excluam os registros dele em razão da presença na lista. Em razão do alinhamento das big techs com o governo Trump, é bem possível que isso aconteça".

A história recente oferece precedentes. O professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard, Vitélio Brustolin, lembra o caso de Ramzan Kadyrov, líder da Chechênia. Incluído na lista de sanções relacionadas à Lei Magnitsky em dezembro de 2017, Kadyrov teve seus perfis desativados pelo Facebook e Instagram, que alegaram ter uma "obrigação legal" de fazê-lo. Por outro lado, Brustolin aponta que indivíduos como Nicolás Maduro, Dmitry Rogozin ou Dan Gertler, mesmo sancionados, não tiveram suas contas bloqueadas pelo Facebook, demonstrando que a aplicação pode variar e não é automática para todas as plataformas ou perfis.

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Serviços Pagos: De Transportes a Streaming e Cartões

O impacto é consideravelmente mais claro e direto quando se trata de serviços pagos, como aplicativos de transporte, plataformas de streaming, e-commerce e serviços financeiros. Priscila Caneparo, pós-doutora em Direito Internacional e professora da Ambra University, é categórica: "As empresas americanas, ou até as empresas estrangeiras com ativos e operações nos Estados Unidos são proibidas de fazer negócio com ele”.

Isso implica que Alexandre de Moraes "não poderia continuar usando legalmente serviços do Google, Meta, Microsoft, Uber, Apple, Visa, Mastercard, Amex, PayPal, bancos internacionais ou com conexão aos Estados Unidos". A razão para tal aderência é simples e pragmática: empresas que desrespeitam as sanções podem enfrentar multas milionárias e até mesmo a perda de suas operações em solo norte-americano, o que as força a cumprir rigorosamente as determinações.

A restrição não se limita a marcas específicas de dispositivos ou serviços, mas estende-se crucialmente aos sistemas de pagamento acoplados a eles, como Apple Pay, Google Pay e PayPal, que se tornam inacessíveis para o ministro, impedindo-o de efetuar qualquer transação financeira via esses canais.

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Compras Internacionais e Câmbio de Moedas: O Dólar como Barreira

A analista de Economia da CNN, Thais Herédia, complementa que as restrições se estendem a transações de compras em sites internacionais ou até mesmo em outras moedas. No Brasil, todas as operações de câmbio, por mais que envolvam moedas diversas, são intermediadas pelo dólar americano. Isso significa que, mesmo que o ministro desejasse adquirir ienes japoneses, euros ou pesos argentinos, ele seria impedido devido à necessidade de conversão via moeda americana, que está sob a alçada das sanções. Essa avaliação se baseia na análise de diversas outras sanções aplicadas pelos Estados Unidos a cidadãos em todo o mundo, mostrando a abrangência do controle financeiro imposto pela Lei Magnitsky.

As Implicações de um Precedente

A aplicação da Lei Magnitsky contra um ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro estabelece um precedente de grande repercussão, não apenas para as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, mas também para a política interna e a percepção internacional sobre a atuação de autoridades brasileiras. A situação continua a ser monitorada de perto, aguardando-se os desdobramentos e as reações do governo brasileiro e do próprio ministro.

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