Montadoras avisam Lula que vão demitir se vier pacote pró-China; Entenda

O cenário automotivo brasileiro está em ebulição. As quatro maiores montadoras em operação no país – Volkswagen, Toyota, Stellantis e General Motors (GM) – lançaram um alerta severo ao governo federal. Em pauta, a iminência de uma medida que visa incentivar a produção de veículos por meio do sistema Semi Knocked Down (SKD) e Completely Knocked Down (CKD), que, segundo as empresas, ameaça investimentos bilionários e a manutenção de dezenas de milhares de empregos no parque industrial nacional.

Montadoras Detalham Perdas: R$ 60 Bilhões em Risco e 55 Mil Demissões Potenciais

Em uma carta conjunta de tom alarmante, enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em 15 de junho de 2025, os executivos detalharam as consequências devastadoras do plano. Assinado por Ciro Possobom (Volkswagen)Evandro Maggio (Toyota)Emanuele Cappellano (Stellantis) e Santiago Chamorro (GM), o documento aponta para uma perda imediata estimada em R$ 60 bilhões em investimentos que estavam planejados.

Além do impacto financeiro direto, o alerta das montadoras prevê a não concretização de 10 mil novas contratações que estavam no pipeline do setor. A situação é ainda mais grave no que tange aos empregos atuais: uma projeção de demissão de até 5 mil trabalhadores diretamente empregados nas próprias montadoras. O efeito cascata se estenderia drasticamente à vasta cadeia de fornecedores, onde, para cada emprego direto perdido na montadora, outros dez podem ser eliminados, potencialmente totalizando até 50 mil cortes indiretos em todo o ecossistema.

Modelo SKD/CKD: Pouco Conteúdo Nacional e Ameaça à Engenharia Local

O cerne da discórdia reside no modelo SKD (e, em menor grau, CKD), onde os veículos chegam ao Brasil praticamente prontos, necessitando apenas de uma montagem final mínima. Conforme a carta das montadoras, esse sistema resulta em um baixíssimo conteúdo nacional, uma mínima geração de empregos qualificados e uma grave ameaça a todo o ecossistema de autopeças e engenharia automotiva local. “Essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, desmantelando décadas de desenvolvimento e investimento em capacidade produtiva no Brasil”, alertam os executivos no documento, sublinhando o risco de retrocesso industrial.

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Acusações de Benefício a Empresas Chinesas e Alinhamento Político

A controvérsia ganha contornos políticos e estratégicos com a acusação das montadoras de que a medida beneficiaria especialmente empresas chinesas, citando a BYD como principal exemplo. A montadora chinesa tem concentrado seus recentes investimentos na Bahia, estado que é um notório reduto político do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), apontado como o coordenador do plano. Esse alinhamento geográfico levanta questões sobre a equidade do incentivo e o impacto na competitividade das empresas já estabelecidas e com longa história de investimento no parque industrial brasileiro.

Abipeças e Sindipeças Juntam-se ao Coro: "Renúncia Fiscal Injustificada"

Reforçando o coro de preocupações, as principais entidades que representam a indústria de componentes automotivos também se manifestaram. A Abipeças (Associação Brasileira da Indústria de Autopeças e Componentes) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) enviaram carta ao governo Lula na última segunda-feira, 28 de julho de 2025. No documento, as entidades rejeitam veementemente a proposta de redução de alíquotas para kits SKD e CKD, acusando a medida de representar uma “renúncia fiscal injustificada” e de criar uma “concorrência inusitada e desleal” contra a produção nacional de veículos e componentes, que gera empregos e agrega valor localmente.

BYD Busca Imposto de Importação Reduzido; Governo Permanece Silente

Os pleitos da BYD, formalizados em fevereiro de 2025, incluem a redução drástica do imposto de importação sobre kits SKD e CKD. Atualmente, a alíquota é de 18% para veículos elétricos e 20% para híbridos. A empresa chinesa busca uma redução para 5% e 10%, respectivamente, o que tornaria a importação e montagem local significativamente mais barata. Até o momento da publicação desta matéria no Destaknews (destaknewsbrasil.com.br), o governo federal não emitiu uma resposta oficial às cartas das montadoras ou das associações do setor, mantendo o impasse e a incerteza sobre os próximos passos.

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Futuro dos R$ 180 Bilhões em Investimentos em Xeque

O maior temor do setor é que, caso o governo avance com a proposta, os volumosos R$ 180 bilhões em investimentos que as montadoras haviam prometido para os próximos cinco anos no Brasil sejam drasticamente revisados ou até mesmo cancelados. Desse montante crucial, R$ 130 bilhões seriam destinados diretamente à produção de veículos e R$ 50 bilhões ao parque de autopeças, fundamentais para a modernização, competitividade e transição tecnológica da indústria automotiva brasileira. A implementação da medida, segundo os críticos, desestimularia o investimento em pesquisa, desenvolvimento e produção com alta agregação de valor nacional, privilegiando uma mera etapa de montagem em detrimento de uma cadeia produtiva robusta.

A disputa em curso coloca o governo federal diante de um dilema complexo: equilibrar a atração de novas empresas e tecnologias com a proteção e o desenvolvimento da indústria já estabelecida e sua vasta cadeia de valor. O futuro do parque automotivo brasileiro, com seus milhares de empregos, sua inovação e sua significativa contribuição para o PIB, parece depender da decisão que será tomada sobre a controvertida política de incentivo aos kits SKD/CKD.

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