Delegado-geral Ruy Fontes alega que fez troca porque algumas pistolas nacionais tiveram 'disparos acidentais' e armas austríacas são ‘as melhores do mundo’. As Taurus que não apresentarem falhas serão doadas às guardas civis de 16 cidades. Fabricante desconhece problemas.
A Polícia Civil de São Paulo comprou mais de 4 mil armas da Glock por cerca de R$ 12 milhões. As 4.470 novas pistolas semiautomáticas calibre .40 da empresa austríaca chegaram na semana passada e irão substituir as da brasileira Taurus, usadas por décadas por policiais civis e militares do estado.
À medida que as armas da fabricante nacional forem substituídas, as pistolas da Taurus em bom estado e funcionamento serão doadas para a Guarda Civil Municipal (GCM) de 16 cidades paulistas, segundo a polícia. As armas da empresa que apresentarem falhas serão destruídas.
De acordo com a Delegacia-Geral de Polícia do estado, a troca da Taurus pela Glock foi necessária porque, assim como policiais militares, policiais civis também relataram problemas com alguns modelos da pistola brasileira. O mais grave deles foram disparos acidentais, levando risco de vida aos policiais e outras pessoas.
Por meio de nota, a Taurus informou nesta quarta-feira (3)que vai entrar com uma representação no Tribunal de Contas do Estado (TCE). A fabricante quer que sejam apuradas supostas irregularidades na condução da licitação vencida pela Glock para vender armas à Polícia Civil.
A empresa brasileira informou ainda que desconhece defeitos nas pistolas que estão com a Polícia Civil. De acordo com a Taurus, "o fato dessas pistolas estarem sendo doadas para outras instituições evidencia que inexistem problemas de fabricação."
Procurado pela reportagem para comentar o assunto, o Sindicato dos Delegados de São Paulo pediu urgência na aquisição de armas mais modernas para os cerca de 28 mil policiais civis do estado.
Substituição das armas

“Deram muitos problemas. Algumas disparavam acidentalmente. Por esses motivos resolvemos substituir os lotes”, falou o delegado-geral Ruy Ferraz Fontes sobre as pistolas da Taurus.
Em contrapartida, o delegado-geral elogiou a Glock, que venceu a licitação internacional para a venda de armas para a Polícia Civil de São Paulo. “São as melhores armas do mundo. São armas que não falham, passaram nos testes após 10 mil tiros", disse Ruy.
Segundo a polícia, 1.477 pistolas da Taurus que estavam com ela serão as primeiras trocadas pelas da Glock. Mas antes de usarem as novas armas, policiais civis terão de passar por treinamentos com o novo armamento.
Agentes do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), Grupo Especial de Reação (GER) e Grupo de Operações Especiais (GOE) serão os primeiros a receber as Glock. “Elas são imprescindíveis para o policial que trabalha em atividades operacionais”, disse Ruy.
Armas doadas

Já as pistolas da Taurus irão para Guarulhos e Diadema, na Grande São Paulo. Até a última atualização desta reportagem, a Prefeitura de Guarulhos não havia se posicionado sobre o assunto.
“No começo deste mês retiramos 80 pistolas .40 da Taurus numa unidade da Polícia Civil”, disse nesta quarta Benedito Mariano, secretário de Defesa Social de Diadema.
Atualmente, a Guarda Civil de Diadema usa pistolas calibre 380 milímetros, também da Taurus. “Mas essas novas armas da Taurus, as .40 que foram doadas, só deverão ser usadas em março. Os guardas civis ainda precisam ser treinados para saber como usá-las”, afirmou Benedito.
O objetivo da Polícia Civil é substituir até 2022 todas as Taurus que estão com seus agentes. Eles querem trocá-la por outras pistolas, como as da Glock e a italiana Beretta.
Segundo policiais, existe a possibilidade de que 5 mil pistolas calibre 9 milímetros da Beretta cheguem para policiais civis até o final deste ano. O investimento de cerca de R$ 13 milhões será do governo estadual.