O futuro financeiro dos Correios está sob ameaça real, segundo o diagnóstico apresentado pelo presidente da estatal, Emmanoel Rondon, nesta segunda-feira (29). Em uma análise franca sobre a saúde da companhia, o executivo alertou que, sem a implementação imediata de medidas de contenção e modernização, a empresa pode atingir um desequilíbrio financeiro catastrófico de R$ 23 bilhões até o ano de 2026.
O plano de retomada apresentado por Rondon foca em atacar gargalos históricos que, segundo ele, criaram uma "âncora" na capacidade de crescimento da maior operadora logística do país.
A Estrutura de Custos: O Peso do Passado
O ponto mais sensível do relatório de Rondon é a folha de pagamento e os encargos judiciais. Atualmente, as despesas fixas com pessoal abocanham 62% do orçamento total da estatal. No entanto, o cenário é ainda mais alarmante quando somados os precatórios (dívidas judiciais do governo), elevando esse índice para 72%.
“É um peso que limita drasticamente a nossa capacidade de reação. Com apenas 28% do orçamento para todo o restante da operação e investimentos, a margem de manobra é quase nula”, pontuou o executivo.
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Sucateamento Tecnológico e Perda de Competitividade
Rondon não poupou críticas à falta de investimentos em infraestrutura nos últimos anos. Ele destacou que o parque de máquinas e equipamentos da estatal está defasado, o que gera um efeito dominó negativo:
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Baixa Produtividade: Equipamentos antigos quebram com frequência e processam menos encomendas por hora.
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Ineficiência Operacional: Prazos de entrega mais longos e custos de manutenção elevados.
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Perda de Mercado: A incapacidade de competir com players privados e gigantes do e-commerce que operam com centros de distribuição automatizados.
“Sem modernização, perdemos a capacidade de competir em um mercado cada vez mais disputado e tecnológico”, afirmou.
O "Ciclo Negativo" do Caixa
O presidente explicou que a empresa entrou em um efeito cascata perigoso. A insuficiência de caixa forçou o adiamento de pagamentos essenciais, o que prejudicou diretamente a qualidade do serviço prestado ao cidadão.
“É um ciclo vicioso: a falta de caixa gera atrasos operacionais; os atrasos afastam o cliente e reduzem a confiança na marca, o que provoca uma queda ainda maior na receita. Precisamos quebrar esse ciclo agora para não inviabilizarmos a empresa em dois anos”, explicou Rondon.
Mudança de Cultura e Plano de Retomada
Além dos ajustes financeiros, Rondon defende uma remodelação na cultura organizacional dos Correios. Para ele, a estatal precisa deixar de se ver apenas como uma entregadora de cartas e se consolidar como uma potência logística moderna, capaz de ditar o ritmo do setor postal e de encomendas.
A queda no market share (fatia de mercado) é vista pela nova gestão como o sintoma principal de uma empresa que parou no tempo enquanto o comércio eletrônico explodia no Brasil. O plano de retomada deve incluir parcerias estratégicas, revisão de processos internos e uma busca por novas fontes de receita para equilibrar as contas antes do prazo crítico de 2026.