O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou um terremoto político ao classificar a recente megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, como uma "matança" e uma ação "desastrosa" do ponto de vista do Estado. Em entrevista concedida a jornalistas estrangeiros em Belém (PA) nesta terça-feira (4), Lula não apenas endureceu o discurso sobre o saldo de mais de 121 mortos, mas também defendeu uma intervenção investigativa direta da Polícia Federal (PF).
A mudança de tom do mandatário surpreendeu integrantes de seu próprio governo e parlamentares aliados, que vinham adotando uma postura de cautela estratégica para evitar o desgaste político em um tema onde a opinião pública, especialmente no Rio de Janeiro, se mostra amplamente favorável à ação policial contra o crime organizado.
O Pedido de Investigação Federal e a Crítica à Perícia
O ponto central da crítica de Lula é a letargia na investigação e a falta de transparência nas perícias dos corpos das vítimas, que incluem quatro policiais e mais de uma centena de suspeitos.
“Nós estamos tentando essa investigação. Nós, inclusive, estamos tentando ver se é possível os legistas da Polícia Federal participarem do processo de investigação da morte, como é que foi feito, porque tem muito discurso, tem muita coisa. As pessoas foram enterradas sem que houvesse a perícia de outro órgão. Então, nós estamos trabalhando nisso,” afirmou o presidente.
Lula argumentou que a ordem judicial para a operação era de prisão, e não de extermínio: “Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve a matança.” Ele complementou que, embora o grande número de mortos possa ser considerado um "sucesso" por alguns, a ação, do ponto de vista do Estado, foi "desastrosa". O governo federal, conforme sinalizado, deverá pressionar por uma investigação paralela e independente, um movimento que ecoa o apelo de organismos internacionais, como a ONU, por maior responsabilização.
Reação no Planalto: Estratégia Política em Xeque
A virada discursiva do presidente se choca com os levantamentos internos do Palácio do Planalto. Essas pesquisas apontaram que a maioria da população, em particular a do Rio de Janeiro, apoia a megaoperação contra o Comando Vermelho (CV). A prudência inicial da equipe de Lula, incluindo ministros, era para não confrontar o sentimento de segurança pública e evitar o embate direto com o governador fluminense, Cláudio Castro (PL).
No entanto, o novo posicionamento sugere que o presidente optou por abraçar a pauta dos direitos humanos e da letalidade policial, mesmo correndo o risco de acirrar a polarização com a direita.
Oposição Vai à Guerra: "PT, Partido dos Traficantes"
A reação da oposição não demorou. Políticos alinhados à direita e ao bolsonarismo criticaram duramente Lula, acusando-o de desrespeitar as forças de segurança.
Um parlamentar de oposição escreveu nas redes sociais que Lula "saiu do armário" e questionou o fato de o presidente não ter mencionado os quatro policiais mortos na operação. O tom da crítica foi de que o presidente estaria defendendo os criminosos, culminando na acusação de que o "PT [é] PARTIDO DOS TRAFICANTES". Essa polarização imediata sugere que a segurança pública será, mais uma vez, um dos principais campos de batalha eleitorais e ideológicos.
Com a tensão em alta e a pressão por investigações independentes, a Operação Contenção, deflagrada contra o Comando Vermelho, transcende o âmbito policial e se consolida como um explosivo palco político-judicial no país.