A Avenida Paulista transformou-se novamente em um epicentro de mobilização política na tarde deste domingo (03), com uma expressiva manifestação em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ato, que reuniu milhares de apoiadores, foi marcado por intensas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao governo atual, além de reforçar o clamor por anistia aos investigados e presos pelos eventos de 8 de Janeiro de 2023.
Números da Mobilização e Metodologia Avançada
De acordo com a estimativa conjunta do Monitor do Debate Político da Universidade de São Paulo (USP) e da ONG More in Common, o evento na capital paulista atraiu cerca de 37,6 mil pessoas. Este número foi obtido por meio de uma metodologia inovadora, que utilizou imagens aéreas captadas por drones e analisadas com inteligência artificial. A margem de erro indicada é de 12%, o que situa a participação total entre 33,1 mil e 42,1 mil manifestantes.
Os pesquisadores da USP destacaram a precisão do método, que apresenta uma média de 72,9% e acurácia de 69,5%. O pico de público foi registrado às 15h33, coincidindo com o fervor do discurso do deputado federal Nikolas Ferreira. Durante esse período, a transmissão ao vivo no canal do pastor Silas Malafaia no YouTube também atingiu um pico de cerca de 31 mil espectadores, demonstrando a capilaridade da mobilização tanto presencial quanto online.
Comparativamente, esta foi a maior manifestação na capital paulista desde abril, quando 44,9 mil pessoas foram às ruas. No entanto, o recorde da série histórica do monitor ainda pertence ao ato de fevereiro de 2024, que estimou um público de 185 mil pessoas na mesma Avenida Paulista.
Pautas Centrais: Anistia, Críticas ao STF e Apoio Internacional
O cenário da Avenida Paulista era um mar de verde e amarelo, com manifestantes ostentando faixas, camisetas com as cores da bandeira nacional e cartazes contundentes. A principal bandeira levantada foi a defesa da anistia aos investigados e condenados pelos atos de 8 de Janeiro, considerados por muitos como vítimas de perseguição política.
As críticas mais veementes foram direcionadas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Cartazes pedindo o impeachment de Moraes eram onipresentes, ecoando a insatisfação com as decisões da corte que impactam figuras da direita brasileira. O ambiente também refletia um acentuado apoio a pautas conservadoras e à figura de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, com a presença de bandeiras americanas e cartazes em seu nome. Esse apoio internacional ganhou força após o anúncio de possíveis sanções a autoridades brasileiras, incluindo o ministro do STF, com base na chamada Lei Magnitsky, que visa coibir violações de direitos humanos e corrupção globalmente.
Lideranças no Trio Elétrico e a Ausência de Bolsonaro
O evento foi articulado por proeminentes lideranças da direita, com destaque para o pastor Silas Malafaia, um dos principais organizadores e anfitriões do trio elétrico. Ao seu lado, discursaram figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto.
Apesar da forte presença de seus apoiadores, o ex-presidente Jair Bolsonaro não compareceu pessoalmente. Sua ausência é resultado das medidas cautelares impostas por Alexandre de Moraes, que incluem o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de uso de redes sociais e a restrição de sair de casa nos fins de semana. Mesmo à distância, Bolsonaro acompanhou os atos de sua residência e enviou uma mensagem de agradecimento e incentivo aos manifestantes: “Obrigado a todos pela nossa liberdade”, um lema que ressoa com as demandas do movimento.
Nikolas Ferreira: Impeachment e Pressão ao Congresso
Um dos momentos de maior fervor no trio elétrico foi o discurso de Nikolas Ferreira, que, em tom incisivo, anunciou a intenção de protocolar o 30º pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. O deputado aumentou a pressão sobre o Congresso Nacional, exigindo a votação do projeto de anistia aos presos do 8 de Janeiro e lançando um ultimato aos senadores: “Ou os senadores expurgam Moraes do STF, ou eles serão expurgados do Congresso em 2026”, declarou, em meio a aplausos e gritos de apoio.
A Ausência de Tarcísio de Freitas e o Equilíbrio Político
A ausência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi notada e criticada por Silas Malafaia durante o evento. O governo paulista justificou a ausência informando que o governador havia sido submetido a um procedimento de radioablação na tireoide no próprio domingo e estava em recuperação, passando bem. Cotado como um dos principais nomes para a disputa presidencial em 2026, Tarcísio tem buscado equilibrar o apoio à base bolsonarista com uma postura mais moderada e pragmática, um desafio constante em um cenário político polarizado.
Mobilização Nacional e Perspectivas Futuras
A onda de apoio a Bolsonaro não se limitou à Avenida Paulista. Manifestações semelhantes ocorreram em diversas outras cidades brasileiras, incluindo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia e Belém, onde a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro esteve presente, reforçando a amplitude nacional do movimento.
Apesar da expressiva mobilização e do fervor demonstrado nas ruas, especialistas em direito constitucional e ciência política apontam que pautas como a anistia ampla aos envolvidos no 8 de Janeiro e o impeachment de ministros do STF enfrentam baixas chances de avançar no Congresso Nacional. A complexidade do cenário político e as correlações de força no parlamento sugerem que, apesar da pressão popular, a aprovação dessas medidas seria um obstáculo considerável.
A manifestação na Paulista reafirma a capacidade de mobilização da base bolsonarista e a persistência de suas demandas, prometendo manter o debate político acalorado nos próximos meses, enquanto as atenções se voltam para as eleições de 2026.