A Polícia Federal (PF), em uma ofensiva coordenada com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou na manhã desta quinta-feira (18) uma nova e decisiva etapa da Operação Sem Desconto. A ação busca desmantelar uma sofisticada organização criminosa que transformou a folha de pagamento do INSS em um balcão de negócios ilícitos, lesando milhões de aposentados e pensionistas em todo o Brasil.
Alvos no Alto Escalão: Política e Governo sob Suspeita
A operação de hoje subiu as escadas do poder em Brasília. O senador Weverton Rocha (PDT-MA) foi um dos principais alvos de mandados de busca e apreensão. Além do parlamentar, um de seus assessores diretos também é investigado por suposta ligação com o esquema de facilitação das fraudes.
O impacto da operação atingiu o coração da administração federal. Adroaldo Portal, secretário-executivo do Ministério da Previdência Social e braço direito do ministro Carlos Lupi, foi afastado imediatamente de suas funções. Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), Portal cumprirá prisão domiciliar. Ele é suspeito de usar sua influência no "número 2" da pasta para dar aparência de legalidade às operações das associações fraudulentas.
A "Indústria do Desconto": Como funcionava o esquema
As investigações, que ganharam corpo em abril deste ano, revelam uma engrenagem bilionária apelidada de "indústria de descontos ilegais". O modus operandi era o seguinte:
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Associações de Fachada: Entidades se cadastravam junto ao INSS para oferecer serviços (como seguros ou assistência jurídica).
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Descontos Compulsórios: Sem qualquer autorização ou assinatura dos segurados, essas associações passavam a debitar mensalmente valores diretamente da folha de pagamento.
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Volume Absurdo: Como os valores individuais eram baixos (muitas vezes entre R$ 30 e R$ 70), muitos idosos não percebiam o golpe de imediato. No entanto, na escala de milhões de beneficiários, o montante acumulado entre 2019 e 2024 atingiu a cifra astronômica de R$ 6,3 bilhões.
A Conexão "Careca do INSS"
A PF também efetuou a prisão de Romeu Carvalho Antunes. Ele é filho de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, empresário que já estava detido desde setembro sob acusação de ser o operador logístico do esquema. Para os investigadores, a prisão de Romeu é uma prova de que a organização tentava manter o fluxo de caixa criminoso utilizando familiares e "laranjas" para ocultar o patrimônio e dar continuidade aos desvios mesmo após as primeiras fases da operação.
Números e Abrangência da Operação
A força-tarefa mobilizou centenas de agentes para cumprir uma extensa lista de medidas judiciais autorizadas pelo STF:
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16 Mandados de Prisão Preventiva;
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52 Mandados de Busca e Apreensão;
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Bloqueio de bens e ativos financeiros dos investigados.
As equipes foram a campo no Distrito Federal e em seis estados: São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais e Maranhão. No Maranhão, reduto político do senador Weverton Rocha, as buscas focaram em identificar documentos que liguem o financiamento de campanhas eleitorais ao dinheiro desviado dos aposentados.
Próximos Passos
O foco da PF e da CGU agora é o rastreamento financeiro. O objetivo é identificar onde foram lavados os R$ 6,3 bilhões e tentar reaver parte do patrimônio para ressarcir o Estado e, se possível, as vítimas. O STF deve analisar nos próximos dias o levantamento do sigilo de partes do processo, o que pode revelar novos nomes envolvidos no Legislativo e no Judiciário.
Até o fechamento desta reportagem, a assessoria do senador Weverton Rocha e o Ministério da Previdência ainda não haviam emitido notas oficiais detalhadas sobre as acusações.