Delatora revela omissões e falhas do Facebook; veja o que dizem os documentos

Baixa autoestima no Instagram, algoritmo que fomenta o ódio e lista VIP para violar regras das rede social estão entre as revelações feitas nas últimas semanas. O Facebook voltou a estar sob os holofotes do Congresso dos Estados Unidos. Desta vez, a empresa de Mark Zuckerberg é investigada por negligência com a saúde mental de seus usuários, tendo priorizado o crescimento das próprias margens de lucro. As revelações foram feitas pelo jornal americano Wall Street Journal a partir da delatora Frances Haugen, ex-funcionária da companhia que coletou milhares de arquivos internos da companhia antes de se demitir em maio deste ano.   A matéria continua após a publicidade Os documentos também podem indicar que o Facebook foi conivente com o discurso de ódio que assola a plataforma. Segundo estudos internos, os algoritmos da rede social costumam priorizar conteúdo de cunho negativo (como emojis de raiva ou reclamações), dando mais alcance a essas publicações e, portanto, aumentando o engajamento.   Outro ponto trazido à tona por Frances é que as plataformas de Zuckerberg têm uma “lista VIP” de usuários que podem desrespeitar as políticas de uso da empresa, como é o caso do ex-presidente americano Donald Trump e do jogador Neymar — ambos tiveram seus conteúdos mantidos no ar, apesar de violarem as regras do Facebook.   Leia abaixo as revelações trazidas por Frances Haugen:

Algoritmo aumenta alcance de conteúdos de ódio

  Conteúdos que fomentam o ódio, a intolerância e até mesmo a desinformação tendem a viralizar mais do que outras postagens. Essa é uma decisão do próprio Facebook, indicam os documentos internos da empresa divulgados pelo Wall Street Journal.   Em 2018, a rede social de Mark Zuckerberg estava passando por uma queda no engajamento dos usuários, o que levou à criação de um mecanismo chamado “meaningful social interactions” (em tradução livre, algo como “interações sociais significativas”). Esse mecanismo cria um “score” e atribui às publicações pontos que variam de acordo com seu conteúdo.    Nesse score, posts que geram engajamento de cunho “negativo” são privilegiados. Por exemplo, postagens com mais reações com emojis de “raiva” ou reclamações nos comentários ganhavam mais pontos do que as “neutras” ou positivas. Quanto mais pontos, maiores seriam as chances de o post aparecer no feed de outros usuários, ganhando, portanto, mais alcance. 

Instagram afeta a saúde mental de adolescentes 

  O Instagram, aplicativo do Facebook, causa impacto na autoestima e saúde mental de adolescentes, mas não fez nada para consertar isso, diz Frances. Relatórios internos da companhia dizem que a rede social aumenta os quadros de ansiedade e depressão entre adolescentes que usam a plataforma.    Além disso, uma pesquisa do Facebook realizada em março de 2020 apontou que ao menos 30% das meninas que usam Instagram se sentiam mal com o próprio corpo ou ficavam ainda piores depois de acessar a rede. 

Lista VIP

  Em outra revelação, a rede social teria um peso e duas medidas, dependendo do usuário, sobre como as regras do site são aplicadas. Os documentos revelam a existência de uma “lista VIP” de usuários que escapam das políticas e termos de uso das plataformas. Essas personalidades, que vão desde o ex-presidente americano Donald Trump até o jogador Neymar, contam com uma espécie de “passe livre” quando postam conteúdos que violam as políticas da empresa.    Ou seja, as pessoas dessa lista estão sujeitas a um tipo mais brando de moderação no Facebook (que, em condições normais, poderia excluir imediatamente um post com conteúdo sensível ou até suspender temporariamente a conta).    Além disso, as “regalias” da lista VIP incluíam alguns cuidados extras, como a possibilidade de receber um aviso particular do Facebook para deletar algum conteúdo antes que a plataforma pudesse fazê-lo. 

Tráficos humano e de drogas ‘escapam’

  Também segundo o Wall Street Journal, moderadores do Facebook vinham acompanhando com preocupação o uso da rede social por traficantes de drogas e organizações criminosas envolvidas com o tráfico de pessoas ao redor do mundo.    Embora esses conteúdos muitas vezes fossem interceptados por funcionários da empresa, o Facebook não conseguia eliminá-los completamente, diz o jornal.   Esse posicionamento permitiu que um cartel mexicano de drogas recrutasse membros para uma facção criminosa ou que mulheres do leste europeu fossem submetidas a regimes análogos à escravidão em trabalhos de prostituição, por exemplo.

Violência contra minorias 

  Outro ponto polêmico sobre a rede social de Mark Zuckerberg, e que ganhou ainda mais destaque com o depoimento da ex-funcionária da empresa Frances Haugen no Senado dos Estados Unidos, foi o papel da rede social nas tensões políticas em países como Etiópia e Mianmar.    No mês de junho, uma investigação da organização de direitos humanos Global Witness já havia apontado que os algoritmos do Facebook ajudaram a promover e incitar a violência em Mianmar, enquanto o país lidava com a tensão política do golpe militar que derrubou o governo eleito no início deste ano.    Lá, quando um usuário curtia uma página de apoio aos militares do país, por exemplo, o próprio Facebook já recomendava ao usuário outras páginas com o mesmo teor, embora estas não necessariamente obedecessem às políticas de uso da rede, já que promoviam o ódio e a violência.    Na Etiópia, que atualmente enfrenta uma guerra civil, a situação é parecida: os algoritmos do Facebook também são apontados como co-responsáveis pela escalada do discurso de ódio e a incitação à violência entre a população.    “O Facebook sabe que a classificação baseada em engajamento é perigosa quando não há sistemas de integridade e segurança, mas essas medidas não foram implementadas na maioria dos idiomas do mundo. O que vimos em Mianmar e agora estamos vendo na Etiópia são os capítulos iniciais de uma história de terror de que ninguém quer saber o final”, afirmou Haugen aos senadores americanos. 

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