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A pandemia bagunçou o uso das calças com zíper e mudou os hábitos de alimentação e da bebida das pessoas. Agora há novas indicações de que fez com que alguns americanos se tornassem mais inflexíveis no que diz respeito aos banhos.
Alguns pais têm se queixado de que seus filhos adolescentes evitam tomar banho diariamente. Depois que, segundo a imprensa britânica, uma pesquisa da YouGov mostrou que 17% do britânicos abandonaram os banhos diários durante a pandemia, muitas pessoas declararam no Twitter que decidiram fazer o mesmo.
Heather Whaley, escritora de Redding, Connecticut, comentou que o uso do seu chuveiro caiu 20% no ano passado. Depois que a pandemia a obrigou ao confinamento, Heather, 49 anos, disse que começou a pensar no motivo pelo qual ela tinha de tomar banho diariamente.
“Devo mesmo? Quero?”, disse. “O ato de tomar uma ducha tornou-se menos uma questão funcional e mais uma questão de fazer algo para mim mesma que me agrada”.
Robin, que ainda usa desodorante e lava diariamente “as partes que é preciso lavar” na pia, tem certeza de não estar ofendendo ninguém. Sua filha de 22 anos, que é delicada na questão do banho, não comentou os hábitos de higiene da mãe. Nem tampouco os alunos da sua escola.
“As crianças dirão quando você tem um cheiro bom”, continuou Robin, “as crianças de 3, 4 ou 5 anos costumam dizer a verdade”.

Encanamentos e mobilidade vertical mudaram tudo
As duchas diárias são um fenômeno razoavelmente novo, segndo Donnachadh McCarthy, ambientalista e escritor de Londres que cresceu tomando banhos semanais. “Nós tomávamos banho uma vez por semana e nos lavávamos na pia no resto da semana – as axilas e as partes íntimas – e pronto”, afirmou McCarthy, de 61 anos. Ao envelhecer, ele passou a tomar banho de chuveiro diariamente. Mas depois de uma visita à floresta amazônica em 1992, revelou os desastres do desenvolvimento excessivo, começou a reconsiderar até que ponto os seus hábitos diários estavam afetando o meio ambiente e o seu próprio corpo. “De fato, não é bom lavar-se com sabão todos os dias”, afirmou. Ele toma ducha uma vez por semana. Médicos e especialistas em saúde afirmam que os banhos de chuveiro diários são desnecessários, até mesmo contraproducentes. Lavar-se com sabão todos os dias é um hábito que pode eliminar os óleos naturais da pele e fazer com que ela pareça seca, embora os médicos ainda recomendem lavar as mãos com frequência. A obsessão dos americanos com a limpeza surgiu por volta da virada do século 20, quando as pessoas começaram a mudar-se para as cidades depois da Revolução Industrial, disse James Hamblin, professor da Universidade Yale e autor do livro Clean: The New Science of Skin and the Beauty of Doing Less. As cidades eram mais sujas, por isso os moradores sentiam a necessidade de se lavar com mais frequência, disse Hamblin, e a produção de sabão se tornou mais frequente. Os encanamentos das casas também começaram a ser aprimorados, consentindo à classe média um maior acesso à água. Para se distinguirem das massas, as pessoas ricas passaram a investir em sabonetes e shampoos mais refinados e a tomar banhos mais frequentes, ele disse. “Foi uma espécie de corrida armamentista”, segundo Hamblin. “Se a pessoa pudesse tomar banho todos os dias, seria um indicador de riqueza”.