Polícia investiga morte de modelo encontrada com vários ferimentos em BH

Um mistério envolvendo a morte da estudante e modelo Alice Gabrielle Brito Pinheiro, de 17 anos, levou a Polícia Civil a instaurar um inquérito para investigar o caso.
A jovem morreu no meio da rua, na segunda-feira (16), em frente à casa onde estava vivendo com o namorado, no bairro Conjunto Paulo VI, na região Nordeste de Belo Horizonte.
 

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Segundo os vizinhos, Alice vivia sendo espancada pelo namorado, um rapaz de 20 anos. A informação foi negada pela mãe do namorado (leia mais abaixo).
Os dois tiveram uma filha, hoje com 1 ano, e a criança mora com a avó materna, que tem a guarda da neta.
A PM registrou boletim de ocorrência como encontro de cadáver. No entanto, o delegado da 4ª Delegacia da Polícia Civil, João Francisco, instaurou inquérito para apurar a causa da morte da adolescente. 
Vizinhos disseram que Alice foi espancada no sábado por um cunhado, irmão do namorado dela, e que ela gritou muito pedindo socorro. Uma vizinha contou que, depois de o agressor ter ido embora, ela foi até a casa da adolescente e cuidou dela.
No domingo de manhã, o namorado de Alice a teria espancado novamente, segundo testemunhas. Na segunda-feira, a jovem saiu de casa e caiu morta na rua. 
 

Mãe diz que vítima foi torturada

 
A mãe da garota, a auxiliar administrativa Michelle Luana Brito Tamietti, de 40 anos, contratou dois advogados para acompanhar os trabalhos da polícia. “Eu recebi um telefonema dizendo que minha filha estava morta. Cheguei lá, e o corpo dela estava todo machucado”, contou a mãe.
A mãe da adolescente já trabalhou como socorrista e fez fotos da filha já morta, com várias marcas de violência.
“Não sou perita, não sou médica, mas, como socorrista e bombeira civil, eu percebi chutes, pancadas, lesões grandes na cabeça, dos dois lados. Ela tem uma lesão de esganadura na boca, como se alguém tivesse apertado para que ela abrisse a boca. De um lado, tem a marca de um dedo polegar; do outro lado, dos dedos indicadores. Na perna dela, tem uma queimadura muito grande, como se tivesse colocado um objeto quente e puxado, um ferro, uma coisa nesse sentido. Tem marcas de chutes na perna, nas nádegas. As marcas de tênis estão bem claras. Eles chutaram muito ela, bateram muito, muito soco na cabeça, aparentemente. O nariz dela está deslocado. Eles torturaram muito essa menina”, relatou a mãe, aos prantos.
Michelle contou que o sonho de Alice era ser médica veterinária e que ela costumava recolher animais de rua para cuidar deles em casa. “A Alice era vida. A partir da primeira semana que esse rapaz entrou na vida dela, ela se tornou uma menina sem luz, triste, angustiada. Alice só chorava, chorava, chorava”, relatou a mãe.
“Eu disse no velório dela: 'Está errado. Não sou eu que tenho que enterrar a minha filha. Era a minha filha que tinha que me enterrar. Essa é a ordem natural”, chorou a mãe, que só pensa agora em lutar por justiça. “Eu tenho um buraco dentro de mim. A única coisa que sobrou dentro desse buraco é um grito por justiça. E é o que eu quero. Eu quero justiça pela minha filha. Eu devo isso à  minha neta”, disse Michelle.
A reportagem esteve na casa dos pais do rapaz apontado como suspeito pela família da adolescente, no bairro Cidade Nova, na região Nordeste de Belo Horizonte, mas ninguém foi encontrado no endereço.
 

Ex-sogra de Alice nega espancamentos

 
Nesta quinta-feira (19), um dia após a publicação desta reportagem a respeito do mistério em torno da morte de Alice Gabrielle Brito Pinheiro, amigos e parentes próximos do ex-namorado da garota – apontado pela mãe de Alice e por vizinhos do imóvel onde o casal morava como autor das agressões contra a menina – procuraram a reportagem para apresentar suas versões a respeito dos dias que antecederam a morte da adolescente de 17 anos, assim como sobre a relação dela com o companheiro.
A mãe do namorado de 20 anos de Alice, ex-sogra da garota e advogada, negou que o filho tenha agredido a menina e apontou suicídio como a causa possível para a morte dela. 
A reportagem optou por não identificar a mãe do jovem para preservá-lo. O ex-namorado de Alice preferiu não ser entrevistado, apenas sua mãe falou a respeito do caso. 
"Encontraram ela (Alice) caída no chão, na porta de casa, com sintomas de intoxicação por drogas, drogas provavelmente remédios, ou seja, suicídio. Caiu, bateu a cabeça. Tinha três testemunhas no local que presenciaram e tentaram fazer massagem cardíaca, é o que consta no boletim. Pessoas que têm conhecimento de causa informaram que, aparentemente, foi suicídio mesmo por intoxicação. Ela estava com vermelhidão por todo o corpo (por causa dos remédios), não tinha sinais de pancada, marca nenhuma, é só observar as fotos", disse.
À reportagem, a advogada relatou que Alice sofria há muito tempo por estar distante de sua filha de 1 ano. "A maior revolta da Alice era não ter a filha por perto, ela chorava quase todos os dias", completou. 
Ainda de acordo com a mãe do ex-namorado de Alice, há cinco dias seu filho não estava mais no imóvel com a garota, isto pois o casal teria se separado por um tempo ainda na quinta-feira – 12 de dezembro – e, desde então, o jovem teria voltado à casa dos pais, levando embora consigo algumas roupas e documentos. 
"Ele estava comigo há cinco dias, ficava em casa mesmo. Eles estavam dando um tempo, foi com o pai (na semana passada) e buscou as coisas dela. Ela estava arrumando a casa (quando eles chegaram), ela estava aparentemente bem, falou que depois voltava para conversarem com calma, falou que depois voltaria para pegar o restante, que queria mudanças de atitude por parte dela. Ele pegou, voltou para minha casa, e não voltou lá, não", disse ela.
Quanto as torturas denunciadas à reportagem por moradores dos imóveis próximos à residência de Alice, a advogada negou que qualquer um de seus filhos – o ex-namorado de Alice ou o irmão dele – tenha agredido a garota.  
"A última vez que o meu filho conversou com a Alice foi na segunda-feira (16), através do Facebook, por mensagem. Ele nunca, nunca, jamais encostou o dedo nela. Pelo contrário, fez tudo o que estava ao alcance dela para cuidar dela com carinho. Esse relato de que eles torturaram... Meu filho mais velho sequer tem a ver, ele estava com a esposa nos últimos dias. Eu sei, sim, que ela (Michelle) conversou com vizinhos por lá que sequer conheciam os dois (Alice e o ex-namorado), que sequer participavam da vida deles. Tem gente que me falou que quem falou foram vizinhos que nunca participaram da vida deles", afirmou a mãe do jovem. 
Polícia Civil não comenta
A reportagem entrou novamente em contato com a Polícia Civil, mas detalhes a respeito da investigação que apura as circunstâncias da morte de Alice não serão repassados. O laudo da perícia do Instituto Médico Legal (IML) ficará pronto em cerca de 55 dias.
No boletim de ocorrência registrado quando o corpo da adolescente foi encontrado à porta de sua casa no bairro Conjunto Paulo VI, na região Nordeste da cidade, está detalhado que a médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que confirmou o óbito da garota, suspeitava que a causa da morte fosse intoxicação exógena.

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