Edilson Salgueiro/Revista Oeste 
Uma peça publicitária de Natal publicada pelo perfil oficial do Governo Federal na plataforma X (antigo Twitter) neste sábado (20), transformou-se no centro de uma intensa polêmica digital. O vídeo, que deveria ser uma mensagem de celebração de fim de ano, apresenta adolescentes em coreografias que muitos usuários classificaram como inadequadas e excessivamente sensuais para um canal institucional.
Detalhes do Conteúdo
A produção começa com um grupo de meninos e, em seguida, dá destaque a meninas vestindo roupas curtas. O grupo executa passos de dança típicos do funk, ritmo que, embora popular, carrega um histórico de debates acalorados sobre a erotização precoce e a exposição de menores de idade.
A legenda da postagem — "Natal chegando e a gente tá como por aqui? Só pensando em mais realizações pro povo brasileiro!" — foi rapidamente inundada por críticas. Internautas questionaram se o tom adotado e a escolha estética são condizentes com a seriedade esperada de uma conta que representa o Estado brasileiro.
Natal chegando e a gente tá como por aqui? Só pensando em mais realizações pro povo brasileiro! 🌲💚💛pic.twitter.com/QbYySdnyuF
— Governo doBrasil(@govbr)December 19, 2025
O Contexto: Funk, Cultura e Segurança Pública
A repercussão do vídeo não se limitou ao estilo de dança, mas resgatou uma discussão profunda sobre a complexa relação entre certas vertentes do funk e o crime organizado.
Embora o gênero seja defendido por muitos como uma expressão legítima da periferia e um pilar da cultura nacional, subgêneros conhecidos como "proibidão" são frequentemente alvo de investigações policiais por fazerem apologia ao tráfico de drogas e a facções criminosas. Críticos argumentam que, ao adotar essa estética em canais oficiais, o governo corre o risco de validar, ainda que indiretamente, comportamentos que flertam com a ilegalidade.
A "Glamourização do Crime" em Pauta
O episódio traz de volta as reflexões apresentadas pela repórter Rachel Díaz, na Edição 258 da Revista Oeste. Em sua reportagem, Díaz detalha como narrativas que romantizam o universo do crime têm ocupado espaços de relevância cultural e digital, influenciando diretamente o comportamento e as aspirações do público jovem.
"Esse fenômeno não se limita à música; ele infiltra-se em diversos meios digitais, normalizando a estética da contravenção sob o manto da liberdade de expressão", destaca o texto da revista.
Do Digital ao Legislativo: O Caso "Anti-Oruam"
O debate sobre os limites da promoção cultural financiada ou apoiada pelo poder público já vinha ganhando tração no campo político. Recentemente, a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo (União-SP) protocolou uma proposta para proibir shows que incentivem o crime e o uso de substâncias ilícitas em eventos custeados pela Prefeitura de São Paulo.
O projeto, que ficou conhecido nas redes sociais como “PL Anti-Oruam”, gerou uma forte reação do rapper Oruam (Mauro Davi dos Santos Nepomuceno). O artista é uma das figuras centrais dessa discussão:
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Influência: Possui 8,6 milhões de seguidores no Instagram e mais de 13 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
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Contexto: É filho de Marcinho VP, uma das lideranças da facção Comando Vermelho, preso há quase três décadas.
A proposta legislativa e a reação do artista, que incluiu ataques à parlamentar, ilustram a voltagem emocional e política que envolve o tema.
Silêncio Institucional e Expectativas
Até o fechamento desta reportagem, o governo federal não havia emitido uma nota oficial justificando a curadoria do vídeo ou respondendo diretamente às críticas sobre a sensualidade das coreografias com adolescentes.
O episódio permanece como um ponto de tensão, reforçando o debate sobre qual deve ser o papel do Estado na promoção de conteúdos culturais e onde termina a celebração da diversidade e começa a negligência com a proteção da infância e juventude.