Um grave escândalo de falta de estrutura e desrespeito abalou o encerramento da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, realizada em Brasília na terça-feira (25/11). Militantes, principalmente um grupo vindo de Santa Catarina, utilizaram as redes sociais para denunciar que foram alojadas em condições subumanas na Granja do Torto, em espaços que seriam destinados a abrigar animais, como currais ou baias, e não seres humanos.
A Denúncia Viral: Dormindo em Meio à Serragem e Moscas
Os vídeos que circulam nas redes sociais mostram a indignação e revolta das participantes com as condições de acolhimento. As militantes relataram que a área reservada para o pernoite era imprópria, com o chão coberto por lona, feltro e serragem, características típicas de espaços utilizados em feiras agropecuárias.
A militante Ary Ramos fez um desabafo emocionado em um dos vídeos, reforçando a gravidade da situação:
– “Nós, mulheres negras, que saímos das nossas casas para construir essa marcha, seremos realocadas no espaço designado para os cavalos.”
Ela ainda destacou que o ambiente estava infestado de moscas, e o cheiro forte, remetendo a um estábulo, tornava o local insalubre, especialmente para idosas, crianças e pessoas com comorbidades que estavam no grupo e precisaram dormir ali.
A ativista Juh Pompeu ecoou o sentimento de ultraje:
– “Que política de bom viver é essa? Colocar a gente para ser tratada igual a animais? A gente veio lutar pelos nossos direitos e é recebida desse jeito.”
A denúncia levanta sérias questões sobre a organização e o planejamento logístico do evento, que tinha como pauta central a dignidade e a reparação histórica para a população negra.
Contexto da Marcha e Local do Evento
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver reuniu cerca de 300 mil pessoas em Brasília. A concentração e os alojamentos ocorreram no Parque de Exposições da Granja do Torto, uma área amplamente utilizada para feiras e eventos agropecuários, o que explica a disponibilidade de estruturas como currais e estábulos.
O evento, que mobilizou caravanas de todo o país, tinha o objetivo de pautar junto ao Governo e à sociedade a necessidade de políticas públicas eficazes contra a violência, o racismo e a desigualdade. O contraste entre a magnitude da causa e a precariedade do acolhimento gerou críticas massivas.
Posicionamento do Comitê Nacional da Marcha
Em nota oficial, o Comitê Nacional da Marcha se manifestou sobre o ocorrido. O grupo expressou solidariedade às mulheres que vivenciaram "experiências difíceis e desalojadoras", reconhecendo falhas no processo.
A nota citou que os problemas foram causados por uma combinação de fatores, incluindo:
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Problemas estruturais das áreas cedidas para o acolhimento;
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Chuvas fortes que atingiram Brasília naqueles dias;
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Falhas no processo de acolhimento e realocação das caravanas.
No entanto, o Comitê não detalhou as medidas práticas e imediatas que foram tomadas para realocar as mulheres ou para responsabilizar os organizadores e gestores do espaço pelo ocorrido, limitando-se a afirmar o compromisso com a reparação.
Repercussão e Cobrança de Explicações
O episódio gerou uma onda de cobranças nas redes sociais e entre os movimentos sociais por esclarecimentos e retratação pública por parte da organização do evento e dos órgãos públicos responsáveis pela cessão do espaço. A indignação reside no fato de que mulheres que se deslocaram de longe para lutar por dignidade foram, ironicamente, expostas a condições que atentam contra ela.