Um levantamento chocante do Observatório Brasileiro de Políticas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelou um aumento alarmante no número de pessoas vivendo nas ruas do Brasil. Em pouco mais de um ano, esse contingente saltou de 160 mil para aproximadamente 345 mil, um crescimento de mais de 100%. Os dados vêm à tona mesmo após o governo federal lançar, em dezembro de 2023, o Plano "Ruas Visíveis", uma iniciativa com investimento de R$ 1 bilhão para combater a miséria urbana.
A pesquisa da UFMG destaca a urgência de uma crise que se aprofunda e atinge diretamente a dignidade e os direitos humanos de milhares de brasileiros. O crescimento exponencial da população em situação de rua aponta para falhas sistêmicas e para a ineficácia das políticas públicas atuais em conter a escalada da pobreza e da exclusão social.
Falhas na execução e desafios do Plano "Ruas Visíveis"
Lançado com grande expectativa, o Plano "Ruas Visíveis" foi projetado para ser uma resposta abrangente ao problema. Ele previa um investimento robusto em diversas áreas, como assistência social, segurança alimentar, habitação, saúde, trabalho e renda, além da promessa de um censo nacional para quantificar e entender melhor a realidade da população em situação de rua.
No entanto, o estudo da UFMG sugere que os resultados concretos do plano ainda não se materializaram de forma significativa. A discrepância entre a ambição do projeto e o aumento dramático da população sem-teto levanta sérias questões sobre a execução das políticas e a alocação dos recursos. Especialistas apontam que a burocracia, a falta de articulação entre as esferas de governo e a complexidade do problema em si podem estar minando os esforços.
O fenômeno do aumento da população em situação de rua não é uniforme no país. Grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e as capitais do Nordeste, são os mais afetados, mas a crise se espalha para cidades de médio porte, refletindo uma piora generalizada das condições econômicas e sociais. A inflação, o desemprego e a falta de moradias acessíveis são fatores que contribuem diretamente para a vulnerabilidade de milhões de famílias.
Impacto humano da crise
Além dos números frios, o relatório da UFMG destaca o impacto humano da crise. Pessoas em situação de rua enfrentam diariamente a exposição à violência, à falta de acesso a serviços básicos de saúde, à insegurança alimentar e à exclusão social. A falta de um lar seguro é a ponta do iceberg de problemas que incluem a desestruturação familiar, o uso de álcool e drogas como escape e a perda de vínculos sociais.
A pesquisa da UFMG é um chamado de alerta para a sociedade e para os gestores públicos. O aumento expressivo da população em situação de rua não pode ser visto apenas como um problema social, mas como uma emergência humanitária que exige ações imediatas, coordenadas e eficazes. A urgência da situação demanda a reavaliação das estratégias atuais e a busca por soluções mais eficazes, garantindo que o investimento de R$ 1 bilhão se traduza em dignidade para quem mais precisa.