Morreu neste domingo (20), aos 50 anos, a cantora Preta Gil. A artista, filha do lendário Gilberto Gil, travava uma batalha contra um câncer colorretal desde janeiro de 2023. A notícia foi confirmada pela assessoria da cantora, gerando uma onda de luto e comoção entre fãs, amigos e toda a comunidade artística brasileira.
A Trajetória de Luta Contra a Doença
O diagnóstico de adenocarcinoma foi feito em janeiro de 2023, após Preta ser internada com desconfortos intestinais. A notícia chocou o país, que acompanhou de perto sua jornada de tratamento. No final do mesmo ano, a cantora chegou a celebrar a entrada em remissão, um período de cinco anos em que o câncer pode não se manifestar, mas que não significa a cura definitiva.
A esperança foi abalada em agosto de 2024, quando a artista revelou, em um depoimento, a recidiva da doença em quatro diferentes locais do corpo: dois linfonodos, uma metástase no peritônio e um nódulo no ureter. "Eu tive um câncer no intestino que eu tratei, me curei dele, fui liberada pelos médicos completamente para seguir uma vida perto da normalidade. Estava indo muito bem na minha reabilitação e tenho exames periódicos para serem feitos enquanto estiver em remissão. Remissão é um período de cinco anos em que o câncer pode voltar. O meu câncer voltou", declarou Preta Gil à época, demonstrando sua habitual transparência e vulnerabilidade.
Desde então, a cantora intensificou os tratamentos, inclusive buscando recursos em Nova York, Estados Unidos. Em dezembro do ano passado, Preta foi submetida a uma complexa cirurgia de 20 horas para a retirada dos tumores, um procedimento de alta complexidade que refletia a gravidade de seu quadro. Em novembro, um revés nos tratamentos: fortes dores abdominais levaram à descoberta de cálculos renais que entupiram o cateter utilizado para a quimioterapia, exigindo a interrupção do tratamento e uma nova intervenção cirúrgica.
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Legado de Amor, Amizade e Ativismo
Ainda que a família não tenha se manifestado oficialmente até o momento desta publicação, amigos próximos já expressavam sua dor e homenagens. Na manhã deste domingo, que coincidentemente marca o Dia do Amigo, Gominho e a atriz Carolina Dieckmann, grandes amigos de Preta, publicaram declarações emocionadas em suas redes sociais, agradecendo pela amizade e relembrando momentos preciosos ao lado da cantora.
Preta Gil deixa um filho, Francisco Gil, de 28 anos, e uma neta, Sol de Maria, de 7. Além da família, a artista deixa um legado inestimável nas lutas sociais. Sua voz era potente na defesa de causas como o combate ao racismo, à gordofobia e à LGBTfobia. Bissexual assumida, Preta sempre se posicionou em favor da diversidade e da inclusão. "Eu costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram que nem a minha família. O mundo não era assim", afirmou certa vez à revista Forbes, demonstrando sua consciência sobre as desigualdades e seu papel em enfrentá-las.
Cinquenta Anos de Vida e de Luta
Em agosto de 2024, Preta Gil celebrou seus 50 anos de vida, uma data que, apesar dos desafios de saúde, foi marcada por esperança e novos projetos. Para comemorar o meio século de existência, a cantora lançou o livro "Preta Gil: Os primeiros 50", uma obra que revisitava sua trajetória. Em entrevista ao Estadão na época, ela expressou seu otimismo: "Sou uma pessoa que chega aqui zero traumatizada com o que viveu, tudo serviu de lição pra mim, pra poder valorizar ainda mais esses próximos cinquenta. Estou cheia de gás, de ideias, de assuntos, e bora pra mais cinquenta que só tá começando". Infelizmente, a recidiva do câncer coincidiu com esse período de celebração, tornando seus últimos meses de vida uma prova de resiliência e força.
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Uma Vida Marcada pela Arte e Inovação
Nascida em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, Preta Maria Gadelha Gil era a quarta dos sete filhos de Gilberto Gil e Sandra Gadelha. Afilhada de Gal Costa e sobrinha de Caetano Veloso, sua infância foi dividida entre o Rio de Janeiro e Salvador. Em 1990, após a trágica morte de seu irmão, Pedro Gil, em um acidente de carro, ela se mudou definitivamente para o Rio, onde estudou teatro na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras) e teve sua primeira experiência artística em um clipe da prima, Marina Lima.
Embora tenha crescido em um ambiente musical, Preta inicialmente atuou nos bastidores, trabalhando como produtora e publicitária. Somente aos 28 anos, com o apoio de amigas como Ivete Sangalo e Ana Carolina, decidiu focar na carreira musical. Seu primeiro álbum, "Prêt-à-Porter", lançado em 2003, já chegou com a polêmica capa em que posou nua, desafiando padrões e estabelecendo sua marca de autenticidade. Seguiram-se outros discos de sucesso, como "Preta" (2005), "Sou Como Sou" (2012) e "Todas as Cores" (2017), este último celebrando a diversidade com participações de grandes nomes como Marília Mendonça, Pabllo Vittar e Gal Costa.
Sua paixão pelo Carnaval, que começou aos 16 anos em Salvador, culminou na criação do aclamado "Bloco da Preta" em 2009, um dos mais populares e emblemáticos do Carnaval carioca, arrastando multidões com sua energia contagiante e repertório eclético.
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Empreendedorismo e Atuação Artística Versátil
Além da música, Preta Gil destacou-se como uma empresária visionária. Foi uma das fundadoras da Music2 + Mynd8, uma agência pioneira de marketing de influência e entretenimento que impulsionou carreiras de nomes como Pabllo Vittar, Xamã, Camilla de Lucas, Jessi Alves, Douglas Silva, Pequena Lo, entre outros artistas e influenciadores. Em 2019, a agência foi reconhecida com o prestigioso Prêmio Caboré, um dos mais importantes da publicidade brasileira.
Sua versatilidade também se estendeu à atuação. Preta participou de diversas novelas, como "Agora É Que São Elas" (2003, Globo), "Ti-Ti-Ti" (2010, Globo), "Caminhos do Coração" (2007) e "Os Mutantes" (2008) — as duas últimas produzidas pela Record.
Na vida pessoal, Preta foi casada três vezes: com Otávio Müller, pai de seu único filho, Francisco Gil Moreira Muller de Sá; com Rafael Dragaud; e Rodrigo Godoy, com quem teve uma separação bastante midiática e dolorosa. "Eu já estava insatisfeita com algumas coisas, com o diagnóstico fiquei ainda mais insatisfeita com o que estávamos vivendo como casal e pensei: ‘Não preciso ficar boa, me curar e me separar’. Foi uma das dores mais profundas que já senti na vida. Primeiro, porque sentia muito amor. Depositei nele muito esse lugar de cuidar de mim, eu projetei nele", desabafou em 2023, durante entrevista ao programa Mais Você, da Globo, evidenciando sua honestidade até nos momentos mais íntimos e vulneráveis.
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