Nesta quinta-feira (26), o Brasil se despede de uma das maiores referências da poesia contemporânea: Armando Freitas Filho, que faleceu aos 84 anos no Rio de Janeiro. A notícia foi divulgada pela poeta Alice Sant’Anna, editora de sua obra na Companhia das Letras. A morte de Freitas Filho marca o fim de uma carreira literária prolífica que se estendeu por mais de seis décadas, deixando um legado incomparável na poesia nacional.
Carreira marcada por prêmios e inovação literária
Armando Freitas Filho conquistou o respeito e a admiração de leitores e críticos literários ao longo de sua trajetória. Entre os principais reconhecimentos recebidos, destacam-se o Prêmio Jabuti e o Prêmio Alphonsus Guimarães, este último concedido pela Biblioteca Nacional em homenagem a poetas que se destacam no cenário literário. Sua obra, marcada por uma abordagem inovadora e reflexiva, sempre dialogou com as questões existenciais e as mudanças sociais do Brasil.
Sua estreia literária ocorreu em 1963, com o lançamento de “Palavra”, um livro que já trazia a força de sua voz poética, mostrando ao público sua habilidade de lidar com a linguagem de forma única e impactante. Ao longo dos anos, Freitas Filho consolidou seu estilo, transitando entre o lirismo e a crítica social, sempre com uma profunda reflexão sobre o ser humano e suas complexidades.
Entre suas obras mais celebradas está a "trilogia da memória", composta pelos livros “Dever” (2013), “Lar” (2009) e “Rol” (2016). Nessa trilogia, o poeta aborda temas como o tempo, a identidade e a ancestralidade, explorando a memória tanto em seus aspectos individuais quanto coletivos. Esses textos são considerados essenciais para a compreensão de sua obra madura e de seu olhar apurado sobre a condição humana.
Obra completa e lançamentos recentes
Em 2003, Armando Freitas Filho lançou a importante coletânea “Máquina de escrever”, reunindo grande parte de sua produção literária até aquele momento. A obra foi um marco para os estudiosos e admiradores de sua poesia, consolidando sua presença entre os grandes nomes da literatura brasileira.
Sempre em diálogo com o presente, mesmo em sua fase mais avançada da vida, Freitas Filho continuou a produzir. Em 2020, quando completou 80 anos, lançou “Arremate”, um livro que muitos consideram uma espécie de síntese de sua carreira, com textos que revisitavam temas recorrentes em sua obra, como o tempo e a finitude.
Dois anos depois, em 2022, o poeta surpreendeu novamente com “Só prosa”, uma coletânea de textos que aproximam sua prosa de sua poesia, revelando facetas menos conhecidas de sua produção literária, mas igualmente fascinantes. Essa obra ampliou ainda mais a compreensão sobre o processo criativo de Freitas Filho, e a capacidade de transitar com maestria entre diferentes formas de expressão literária.
Impacto da ditadura militar em sua vida e obra
Durante a ditadura militar no Brasil, Armando Freitas Filho viveu um período de reclusão, o que teve um impacto significativo em sua produção literária. A censura e o clima de perseguição forçaram o poeta a adotar um tom mais introspectivo, refletido em suas obras da época. Esse período de retração e silêncio, no entanto, acabou fortalecendo a profundidade de suas reflexões, fazendo com que sua poesia ganhasse novas camadas de significado.
Além de sua carreira como poeta, Freitas Filho também exerceu funções importantes no campo da cultura. Atuou como pesquisador na Fundação Casa de Rui Barbosa, uma das mais importantes instituições culturais do país, e colaborou como assessor em diversas outras entidades culturais, sempre contribuindo para o fomento e a preservação da cultura brasileira.
Legado e despedida
O legado de Armando Freitas Filho vai além de sua vasta produção literária. Sua influência é sentida entre poetas e escritores contemporâneos, que encontram em sua obra uma fonte de inspiração e aprendizado. Sua capacidade de tratar questões complexas com uma linguagem acessível, sem perder a profundidade, fez com que seus textos tocassem leitores de diferentes gerações.
O poeta deixa sua esposa, Cristina Barros Barreto, e seus dois filhos, Carlos e Maria, que devem continuar a preservar e honrar sua memória. Seu falecimento representa uma grande perda para a literatura brasileira, mas suas palavras, eternizadas em seus livros, continuarão a inspirar e emocionar os amantes da poesia.
O Brasil se despede de Armando Freitas Filho, mas sua poesia permanece viva, ecoando nas páginas de seus livros e no coração de seus leitores.