Julgamento em Belo Horizonte é cancelado após promotor chamar advogada de 'galinha garnisé'

O julgamento ocorreu em 26 de março, quando eram julgados dois réus acusados de envolvimento em um homicídio.

Uma sessão de júri em Belo Horizonte teve de ser cancelada pela juíza Marcela Oliveira D. de Moura após o promotor de Justiça Francisco Santiago, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), chamar a advogada Sarah Quinetti Pironi de "galinha garnisé" e falar que ela faria striptease. 

O julgamento ocorreu em 26 de março, mas só veio à tona nesta terça (2) após a divulgação de um vídeo feito pela advogada, que mostra a confusão após ela ter sido ofendida. Na gravação o promotor aparece dizendo: "Você é neurótica", "histérica", e ela responde: “Ele está tratando a mim porque eu sou uma mulher”. O julgamento foi adiado pela juíza Marcela Oliveira D. de Moura após a confusão.

De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), conforme a ata da sessão do Júri encaminhada para a reportagem do Hoje em Dia, consta a decisão da juíza de dissolver o conselho de sentença, "o que na prática cancelou o julgamento devido ao atrito entre a Promotoria e Defesa", e o julgamento será novamente realizado em 5 de junho.

O documento aponta que o atrito entre promotor e advogada teve início após a fase de réplicas e tréplicas.

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Reprodução/Ata do Júri

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A advogada Sarah Quinetti Pironi disse que ficou bem abalada. “Eu nunca tinha passado por uma situação assim em 13 anos de advocacia, ainda estou bem traumatizada como advogada, bem chateada. Não queria que tivesse tomado essa proporção", explicou, analisando como decepcionante o posicionamento do promotor. "Eu estava inclusive me sentindo honrada por saber que ia participar de um júri ao lado dele, mas o que poderia ter sido um grande aprendizado para ambas as partes, teve um final lastimável. Fere não somente a advocacia, mas o judiciário e a sociedade como um todo", lamentou.

Segundo ela, o promotor não poderia agir dessa maeira. "Não pode usar autoridade para humilhar. creio que ele pensará duas vezes antes de cometer uma situação dessa contra qualquer pessoa."

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A reportagem procurou o promotor Francisco Santiago, que nao gravou entrevista, mas disse que não foi notificado e que está tranquilo.

Em nota, a Corregedoria-Geral do Ministério Público de Minas Gerais, órgão local responsável por analisar eventuais representações relativas a membros da instituição, informou que não recebeu representação que remeta à atuação do promotor de Justiça mencionado.

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), pelos representantes Rodrigo Badaró e Rogério Varela, entrou com uma reclamação disciplinar contra o promotor Francisco Santiago por conta das ofensas contra a advogada.

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No documento afirmam que a postura do promotor “passa ao largo do que se considera socialmente aceitável”. “Não se pode aceitar que seja tolerada a eventual postura de um Membro do Ministério Público em Plenário do Júri a chamar uma advogada de ‘galinha’ e ‘histérica’ e a aduzir que ela estaria fazendo um ‘striptease."

 

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