A Literatura como forma de compreender quem somos

A grande tarefa do leitor é uma tarefa de introspecção e isso seria o grande segredo da literatura, um convite a nós voltarmos para nós mesmos. Resistir ao barulho do mundo, e mergulharmos em mil vivências e experimentá-las, todas suas belezas e angústias, deslumbrar pequenos prazeres com alegrias tímidas e singelas sem perder a grandeza dos detalhes.

Desconfio que sem a literatura seria vítima de uma solidão barulhenta e iria viver cercado de pessoas para disfarçar esse incomodo de quem não se suporta, de quem se volta para si mesmo e não se encontra, e desesperado procurar nos outros, o que já está em nós mesmos.

A literatura foi a forma que Deus revelou a sua mensagem ao mundo porque no fundo Deus sabia que só essa grande arte poderia penetrar na vida humana em um profundo que iria tocar a alma, a mente e o espírito.

O que diria os grandes homens ao ler as jornadas do nascimento de um povo? Suas histórias?  Aflições e erros?  Porque, no fundo, a literatura é a descrição daquilo que somos em essência “homens perdidos procurando um caminho, procurando desesperadamente um ancestral, um aconchego ideológico, um travesseiro para nos deitarmos e não nos sentimos sozinhos no horizonte da história”.

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Por último creio que a literatura nos traz o encantamento das grandes companhias, como eu poderia esquecer o meu amigo Dom Quixote em minha infância, como ser covarde em enfrentar o mundo? Como ser covarde e se recusar a enfrentar os mais belos propósitos?

Como viver sem me afundar em mim mesmo e me reconhecer como sou? Como Alice ao mergulhar em sua alma atrás do coelho, como me entregar a paixões tão violentas e sair ileso? Não seria Romeu um grande conselheiro que William Shakespeare propôs aos jovens? Como andar em rodovias pelas manhas e nas neblinas, não lembrar de personagem sem nome de Dostoiévski em “Noites Brancas”? E reconhecer que a vida está além da realidade, que as nossas expectativas podem ser mais tristes que nossa verdadeira história.

Como amigo leitor não se emocionar com essas pequenas memórias ao longo do dia?  Como sentir solitário se as dores nos unem em uma fraternidade humana e possível?  Precária, porém verdadeira, e ali ao lado de Fernando Pessoa, sim, tem dias que estou cansado, tem dias que observo todos e tudo em minha volta e penso no dia de minha morte, no início como Ivan Ilitch, e com o passar do tempo encerro a reflexão como Bocage, tendo a esperança de viver melhor em um mundo mais quieto, mais calmo, mais simpático.

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Sofremos com os personagens porque, no fundo, somos todos eles, o melancólico que em um último ato de dignidade aceita o destino, o romântico que tocou o amor e foi marcado para sempre, o homem que olhou os céus e contemplou os sonhos maiores e por fim os nossos olhos perante a morte, destino final de nossa peça teatral, as cortinas se fecham e eis a última oportunidade de nos olharmos.

A literatura senhores não é um hábito, é uma construção de quem somos, um reflexo de quem éramos e um convite a sermos, simplesmente o que quisermos ser.

(David Muller)

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Colunista
David Müller
davidmuller2oo6@yahoo.com.br

David Müller 
MBA em Administração Pública: Gestão, Planejamento e Orçamento (PUC/MG)
Especialista em Direito Administrativo (PUC/ MG)
Formado em Direito (PUC/ MG) e em Gestão Pública (Estácio/ RJ).