O que acontece no intervalo da ação e da expectativa? Claro amigo leitor, você saberá, a vida! O autor italiano Dino Buzzati conduz essa obra-prima de modo que o leitor se imagina nos olhos do Tenente Drago, um homem que planeja glórias para sua carreira militar e vê o tempo passar em sua volta com uma velocidade que ele só reconhecerá no final de sua trajetória.
Creio que o “O Deserto dos Tártaros” é uma obra-prima pela capacidade que Dino Buzzati tem de fazer com seus personagens sejam dilemas de nossa própria existência e expectativas sobre a vida, essa experiência única concedida uma única vez.
O livro relata a trajetória de Giovanni Drogo, um tenente que está iniciando sua carreira militar pelo Exército Italiano e que após sua formatura é enviado para o Forte Bastiani, uma fortaleza militar que fica guardando uma fronteira que fica de frente a um deserto, diz a lenda do local que o país pode sofrer uma invasão dos tártaros por esse deserto, e lá Drago sonha em defender a fronteira e ter o merecido reconhecimento e glórias em sua carreira.
O tempo passa e Drogo se vê em uma fortaleza no deserto a espera de algo que aparentemente nunca chega, o personagem começa a refletir a vida, as expectativas de sucesso e o tempo, que mesmo não mencionados diretamente por Drago é um elemento que fica a espreita de toda obra, é como se fosse uma neblina que aos poucos envolve os personagens.
Dino Buzzati nos mergulha no abismo de nossas expectativas, a narrativa dramática que nos faz querer salvar Drago de uma vida sem sentido e infeliz é um aviso aos leitores “Só estaremos aqui uma vez”. Buzzati não é contra os sonhos, é contra a vida passar e sermos aos poucos sufocados pelo esse deserto que se chama tempo.