A um mês da safra, postos registram restrição de diesel

Pesquisa realizada pela consultoria Posto Brasil Seguro reportou escassez em mais de 20 Estados do Brasil

Uma pesquisa realizada pela consultoria Posto Seguro Brasil revelou que postos de combustíveis localizados em mais de 20 Estados brasileiros já apresentam restrição de diesel. Segundo a empresa, os preços dos combustíveis praticados no Brasil estão mais baixos que os do mercado internacional, o que desincentiva a importação. Confira a conversa que tive com o CEO da Posto Seguro Brasil, Nelio Wanderley.

Quantos postos foram consultados? E a conclusão é que falta diesel em quantos Estados do Brasil? Na nossa consultoria, nós temos 300 clientes impactados com os nossos serviços, e a gente fez uma pesquisa geral que teve 85 respostas. Isso é variado entre postos de combustíveis e TRRs, que são os transportadores revendedores Retalhistas, que fazem exatamente essa parte de entrega para o agro. Hoje, 23 Estados têm problemas específicos. Não é que esteja faltando já no mercado, é restrição. O que é isso? O posto de gasolina coloca um pedido de 30 mil de litros e a companhia distribuidora só disponibiliza 20 mil, 15 mil litros. Então, há uma restrição de volume, não está normalizado o abastecimento. Isso é atípico, isso não existe. Geralmente você é atendido na sua necessidade. Na região Nordeste, só o Piauí e o Sergipe não manifestaram algum problema. Na região Norte, não tivemos informações do Amazonas, do Amapá e de Roraima. O restante do Brasil está com problema de restrição.Essa restrição na oferta de diesel ocorre por quê? O Brasil é dependente de importar o produto refinado. Estamos falando do S10, pois não existe S500 lá fora para importar. E o Brasil depende de 25% a 30% de importação deste produto. A Petrobras antigamente pedia os produtos das distribuidoras com 90 dias de antecedência, fazia uma compilação e, o que ela podia produzir, disponibilizava. O que ela não produzia, importava e atendia 100% na demanda nacional. Isso era um compromisso. Mudou recentemente essa forma de importar. A Petróleo Brasileiro (Petrobras) saiu da importação, agora só fornece a sua disponibilidade e deixou a cargo dos importadores fazer essa importação. E, neste momento, ela havia implantado a PPI para ter um preço equivalente ao preço internacional e para que os importadores pudessem fazer as aquisições e disponibilizar no mercado interno. Neste ano, mudou essa política da Petrobras. O que acontece é que hoje a disparidade está entre R$ 0,90 a R$ 1,20 de diferença. Então, o importador tem receio de trazer o produto e não conseguir colocar no mercado interno, tamanha é disparidade no preço internacional versus o preço nacional.

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E o que acontece? Desregula toda uma cadeia produtiva. Como assim? Um produtor que fica na Bahia vai buscar o produto em Minas Gerais porque é economicamente muito mais viável. Só que em Minas Gerais não tem produção suficiente para atender o Estado de Minas e o Estado da Bahia. O que é que vai acontecer? Faltar produto para todos.

Nós estamos há um mês do início do plantio da safra de verão do Brasil, e o agro está espalhado por várias regiões, muitas delas distantes de capitais com dificuldades até de infraestrutura. Qual é o risco de faltar diesel? Esse risco é mais agudo em quais áreas do país? Ele [o risco] está disseminado no país como todo. Não tem uma região mais específica da outra. Onde tem um risco maior é onde tem as refinarias privatizadas, no Rio Grande do Norte, Bahia e no Amazonas, onde elas praticam hoje o preço de paridade internacional. O Norte e o Nordeste importam muito. Então, toda a importação vem pelos portos do Norte, que é mais próximo dos Estados Unidos, de onde vem o produto na sua grande maioria. O Rio Grande do Sul e o Paraná estão tendo um problema muito grande, muito sério, também porque eles importaram muito. E foi um produto que veio da Rússia. Como passou uns três meses fazendo essa importação, as companhias que forneciam o produto para algumas distribuidoras nessa região diminuíram suas cotas nas compras e, agora que o produto russo está inviável para entrar no Brasil, devido à diferença da Petrobras, as companhias que forneciam já pararam de fornecer. Está causando um transtorno muito grande para esses produtores que se abastecem nessas regiões.

Esse problema de falta de diesel, ou escassez, será pontual ou pode se tornar generalizado? Termina sendo generalizado porque é aquela história do lençol curto. Você cobre a cabeça e descobre os pés, ou cobre os pés e descobre a cabeça. Quando falta em algum canto, as companhias dão como polo alternativo outro local que está tranquilo, e todo mundo corre para lá. Então, onde estava bom fica ruim, é um efeito dominó, não tem como segurar.

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Qual é a solução para a escassez de diesel no Brasil? São duas soluções, partindo direto da Petróleo Brasileiro [Petrobras]. Se ela equalizar o preço para ficar mais próximo do preço internacional, o mercado, por si só, vai se regular, porque os importadores vão trazer o produto. Chegando, equaliza o estoque nacional. Ou a própria Petrobras importar, como fazia no passado, 100% do consumo nacional, e ela disponibilizar o preço dela nesse preço. Agora, aí tem um problema. Como é que ela vai importar mais caro para vender mais barato? É um risco muito grande de ter uma ação judicial.

Você está chamando a nossa atenção porque há um risco alto ou para que providências sejam tomadas? As coisas têm que ser alertadas no início para que a providência possa ser tomada. Se não for tomada nenhuma providência, a tendência é se agravar. Não está tendo um caos no Brasil, não está tendo falta de produto, não tem posto faltando o produto e não tem fazendas desabastecidas. Não é bem isso. O que está acontecendo é que começa a ter restrição e, se esse estoque regulador baixar para um nível de muito risco, aí começa a ter o caos. A gente já passou por isso no passado, já faltou o produto e tudo o que o Brasil não precisa nesse momento é passar de novo por essa questão de desabastecimento. Então, é um alerta para que as providências sejam tomadas.

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