Amoxicilina, dipirona e loratadina em falta no Brasil: entenda o porquê

O Brasil depende de matéria-prima do exterior para fabricação de medicamentos, e a situação internacional explica a falta de remédios nas prateleiras

A incidência de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) cresce no inverno com o aumento de diagnósticos de gripe, resfriados, infecções bacterianas e Covid-19. Na estação, aumenta também o consumo de medicamentos para tratamento de doenças respiratórias. No entanto, o cenário internacional caótico com a Guerra na Ucrânia e o lockdown na China tem levado à falta de remédios nas prateleiras na maioria dos municípios brasileiros. 

Entre as cidades do país, 68% registram falta do antibiótico Amoxicilina, 65,6% de Dipirona (que funciona como analgésico, antitérmico e anti-inflamatório) e 55,6% do antialérgico Loratadina. Os dados são de uma pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

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De acordo com a farmacêutica Júnia Célia de Medeiros, presidente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG), a falta de medicamentos é uma realidade preocupante no país.

O problema atinge medicamentos a nível hospitalar, como para gripes e resfriados, e que são principalmente usados nesta época do inverno. A situação nos preocupa, porque a falta desses remédios para tratamento domiciliar pode levar à internação de idosos e crianças e até de adultos.

Aumento no preço do produto para o cliente

Lúcio Borges, proprietário de uma farmácia na região Noroeste da capital, explicou que a falta de insumos reflete também no preço dos medicamentos para tratamento de doenças respiratórias.

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São produtos sazonais, que são mais procurados nesse período, e, com essa falta de produto, além de estar sumindo quando chega, o preço chega onerado, porque as indústrias diminuíram o desconto e as distribuidoras também repassam menos. Acaba chegando mais caro para o consumidor final devido à essa falta de insumo

Remédios em falta podem ser substituídos 

A presidente do CRF-MG orienta pacientes a pedirem, além do medicamento receitado, outros equivalentes para o tratamento da doença diagnosticada.

"Ao procurar o médico, principalmente agora na época do frio, a população deve pedir que ele receite mais de uma opção terapêutica. A população, então, deve procurar o farmacêutico. Só este profissional pode fazer a substituição do remédio prescrito pelo médico por um genérico", pontuou.

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Para Lúcio Borges, ter opções de medicamentos auxilia no atendimento ao cliente, apesar de nem sempre chegar a quantidade ideal para todos. "É uma opção também o médico colocar mais de um item ou diversificar o princípio ativo diferenciado para que possa atender o cliente e facilitar para ele encontrar outras opções. Isso quando achar nas farmácias,  porque às vezes chega na distribuidora, mas chega uma quantidade reduzida. Então eles limitam por CNPJ essa quantidade de pedido. Isso torna difícil atender todo mundo”, disse.

Por quê os remédios estão em falta?

Inúmeros fatores contribuem para a falta de medicamentos no Brasil, como detalha a farmacêutica Júnia Célia de Medeiros. "O problema vai além da Guerra da Ucrânia, do lockdown na China e da greve em portos e aeroportos por funcionários da Anvisa, que são responsáveis por recebê-los e controlar a qualidade desses insumos farmacêuticos. A falta de medicamentos no Brasil é também uma questão de política de saúde", destaca.

De acordo com ela, a solução é a criação de um parque industrial para produção de insumos. "Nós precisamos que o governo invista em um parque industrial robusto para que os insumos farmoquímicos para produção dos medicamentos sejam feitos aqui", cita.

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"Nós temos uma indústria nacional forte de medicamentos, que produz fórmulas farmacêuticas, mas o necessário para a produção desses medicamentos ainda falta. Nós somos, em média, 80% dependentes de matéria-prima vinda do exterior. Então, há necessidade de criar políticas públicas nesse sentido”, conclui.

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