Na receita médica, nada de remédios ou orientações para a saúde, mas sim indicações de influenciadores da internet e intelectuais negros. Foi assim, com o conhecimento, que a médica mineira Júlia Rocha "curou" um de seus pacientes. Negro, gay e evangélico, o rapaz sofria de uma depressão profunda, tendo chegado ao seu limite há cerca de dois meses, quando tentou dar fim ao seu sofrimento atentando contra a própria vida.
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Em um relato publicado nas redes sociais, que até esta quarta-feira (13) já havia sido compartilhado por mais de 3 mil pessoas, a doutora contou que o paciente, de 22 anos, estava deprimido por conta da culpa que carregava por, segundo ele mesmo, não conseguir "corrigir sua sexualidade".
Sem suportar os sentimentos que trazia dentro de si, o paciente tentou se matar usando medicamentos de seu pai, chegando a ficar internado em estado grave. "Ele já estava em acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Já estava usando medicações. A família já estava mobilizada para apoiá-lo, mas, para mim, ele precisava se aprofundar no entendimento do seu lugar social como um homem gay, negro e periférico. Tem horas que só enxergando e conhecendo as estruturas que nos oprimem pra conseguir dar o próximo passo", argumenta Júlia.
Foi então que a receita diferenciada foi entregue ao paciente e, 15 dias depois, a médica soube do resultado ao encontrar com o jovem em um corredor. "Ele sorriu e me deu um longo abraço. Aquele instante durou uns anos. 'Tudo bem?', disse. 'Estou melhor. Bem melhor... Li o livro... passei a receita pra outros amigos...', respondeu. Depois ele disse: 'Quero marcar meu retorno com você' e perguntei se havia alguma novidade. E ele se aproximou pra falar o segredo: 'Tô namorando'", finaliza o texto divulgado pela médica.
Para ajudar outros pacientes que podem sofrer do mesmo "mal" que o jovem atendido por Júlia, o Hoje em Dia preparou uma receita virtual com as indicações feitas pela médica.
Confira:
Receita
- Para assistir no transporte público, na fila do banco ou em casa mesmo:
Canal do Spartakus Santiago: Negro, nordestino e LGBT, o youtuber e publicitário formado em comunicação pela UFF utiliza seus vídeos na internet para buscar aumentar o entendimento sobre questões importantes na internet, como racismo e LGBTfobia.
Canal do AD Júnior: Negro, LGBT e ateu, o brasileiro mora atualmente em Hamburgo, na Alemanha. De lá, ele produz de forma independente o canal que, segundo ele mesmo, "deseja responder a questões sobre a diáspora negra no Brasil e no Exterior". Ele começou a falar sobre racismo e negritude após participar de um vídeo sobre turismo em um canal do YouTube e receber ofensas racistas. A partir daí, AD Júnior transformou as injúrias sofridas em resposta sobre o racismo estrutural da nossa sociedade.
- Para ler nas horas vagas e seguir nas redes:
Conceição Evaristo:Nascida em uma comunidade na Zona Sul de BH, ela é poetisa e romancista, atuando nas áreas de Literatura e Educação. Em sua obra a escritora busca abordar temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. Uma de suas obras mais recentes, o livro de contos "Olhos D'água", pode ser lido on-line clicando AQUI.
Djamila Ribeiro: Filósofa, feminista e acadêmica brasileira, Djamila é pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo. Apesar de ter se tornado conhecida em todo o país por seu ativismo nas redes, ela também é autora de livros como "Quem tem medo do feminismo negro?" e "O que é lugar de fala?". O último deles, inclusive, integra neste ano como bibliografia requisitada para o processo de seleção do Mestrado e Doutorado do Diversitas USP.
Juliana Borges: Pesquisadora em Antropologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), escritora e colunista do Blog da Boitempo, Juliana é autora do livro "O que é encarceramento em massa?", que explica a relação entre as altas taxas de encarceramento e o racismo no Brasil.
Silvio Almeida: Natural de São Paulo, o jurista e filósofo é doutor em filosofia e teoria geral do direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco). Ele também atua como professor das faculdades de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e da Universidade São Judas Tadeu (SP). Ele é autor de vários livros, entre eles "O que é racismo estrutural", livro indicado por Júlia ao seu paciente. A obra pode ser adquirida na internet, mas, até lá, você pode ouvir o autor falar um pouco sobre o assunto neste vídeo divulgado pela editora Boitempo.
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