
Participam da ação o Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST/MPRJ) e da Promotoria de Investigação Penal de Barra Mansa, do MP, e agentes da Decon. Os agentes da Decon e do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (Gaedest), do MP, além da Promotoria de Investigação Penal de Barra Mansa, encontraram 29,700 mil bolívares (Venezuela) e 10 mil dôngs (moeda vietnamita) na casa de Ezequia de Oliveira, presidente da empresa Agesport, que também faz parte do esquema, de acordo com a denúncia. A quantia, convertida em reais, equivale menos de R$ 2 mil. Na casa de Lincoln Vinicius da Silveira, ex-gerente do Barra Mansa, foi apreendida uma BMW.
A investigação da quadrilha começou no final do ano passado. De acordo com a denúncia, Lincoln Vinícius da Silveira Aguiar, que era gerente de futebol do Barra Mansa Futebol Clube, junto com Anderson Martins, presidente do clube, e em acordo com Ezequia de Oliveira, proprietário da empresa Agesport, responsável pela administração e logística da equipe, ofereciam aos jogadores do clube vantagem financeira ilícita para que eles "entregassem" (perder) os jogos disputados.
A quadrilha atuava junto aos interesses de uma máfia internacional de apostas e manipulação de resultados de eventos esportivos, cujo representante ainda não foi identificado. A vantagem aceita pelos denunciados consistia no pagamento de quantias entre R$ 35 mil e até mais de R$ 150 mil por cada jogo em que o Barra Mansa fosse derrotado, seguindo os interesse da máfia.
A denúncia do MP narra uma reunião em que os três dirigentes prometeram pagamentos para alguns jogadores R$ 2 mil para que perdessem por 4 a 0 a partida para o Audax, válida pela série B do Estadual de 2017, ocorrido em 25 de junho. A derrota buscava concretizar o acerto celebrado com a máfia internacional de apostas e manipulação de resultados. Os atletas não aceitaram e o jogo acabou empatado em 2 a 2.
Em outra situação, dias antes da partida entre Barra Mansa e Carapebus, em 2 de julho de 2017, eles ofereceram R$ 3 mil para aqueles que concordassem em "entregar" o jogo para atender aos interesses da máfia. Os atletas novamente recusaram a proposta. Como represália, Ezequia deixou de providenciar a presença de uma ambulância no estádio, o que resultou na perda da partida por W.O., alcançando-se assim o objetivo de perda do jogo, conforme combinado com a máfia.
"Essas pessoas atuam, especificamente, nas séries B e C porque são as menos visadas e de fácil atuação. Fizemos muitas escutas telefônicas com a autorização da Justiça e tivemos acessos a informações de que jogadores são vendidos para fora e esses valores, que deveriam ser depositados na conta do clube, foram desviados para fins próprios do presidente", disse a delegada Daniela Terra, titular da Decon.
Com a ação de hoje, a Decon espera juntar elementos para identificar os integrantes da máfia de manipulação de resultados. A operação foi a segunda fase da operação "Jogo Sujo" e hoje cumpriu mandados em quatro endereços dos denunciados.
Presidente do clube teria embolsado dinheiro da venda de jogador para a Inter de Milão
O Ministério Público ainda relata que o presidente do clube, Anderson Martins, se apropriou de R$ 342,75 mil pertencentes ao Barra Mansa FC, referente a parcela da venda de um jogador formado nas divisões de base e negociado ao clube italiano Internazionale di Milano (Inter de Milão). Segundo a denúncia, Mônica Rodrigues Rosa, na condição de tesoureira do clube, chancelou o ato ilícito e também é denunciada pelo crime de apropriação indébita.
Enquanto a quadrilha lucrava com a derrota e embolsava dinheiro do clube, o Barra Mansa FC vive dias de penúria a menos de dois meses de completar 110 anos de fundação. Em 2017, ano em que foram oferecidas as vantagens indevidas e realizada pelo menos uma manipulação de resultado, o Leão do Sul, como é conhecido o time, foi rebaixado para a série B2, a terceira divisão do Campeonato Estadual do Rio.
Segundo a delegada Daniela Terra, com as apreensões e o que foi investigado até agora muita ilegalidade ainda virá a tona. "Essa investigação do Barra Mansa é só a ponta do iceberg. Vamos identificar e descobrir para onde foi o dinheiro da venda do jogador Dalbert, vendido para o Inter de Milão", falou.
Todos foram denunciados nos artigos 288 (associação criminosa) e 168, 1º, III (apropriação indébita) do Código Penal e nos artigos 41-C (solicitar vantagem para alterar resultado) e 41-D (dar vantagem a fim de alterar o resultado) do Estatuto do Torcedor, tendo ainda seus sigilos bancários quebrados a pedido da Promotoria de Investigação Penal de Barra Mansa, bem como determinado o arresto/sequestro de seus bens até o montante desviado do Barra Mansa Futebol Clube.