Dois pontos da entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional merecem destaque.
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O primeiro é a premissa de uma pergunta feita pela âncora Renata Vasconcellos sobre as posições do candidato em relação aos gays.
Que se questione Bolsonaro sobre isso, ainda que pela enésima vez, é do jogo. Mas ela mencionou que 1 gay é assassinado a cada 19 horas no Brasil por causa de homofobia.
Não existe prova policial de que a causa do assassinato de 1 gay a cada 19 horas é homofobia. O suposto dado veio de um levantamento do Grupo Gay da Bahia e foi divulgado em janeiro deste ano pelo jornal O Globo, do mesmo grupo da TV Globo.
A matéria dizia: “O levantamento do GGB [Grupo Gay da Bahia] é feito com base em notícias publicadas na imprensa, na internet e informações pessoais compartilhada com o grupo.” Ou seja: não é base policial.
Que esse suposto dado vire premissa no Jornal Nacional, é lamentável.
A rigor, nem sequer é confiável o número de 445 vítimas LGBTs em 2017 porque não foi levantado com base em investigações e porque ainda inclui 12 heterossexuais sob a alegação “de envolvimento com o universo LGBT, seja por tentarem defender algum gay ou lésbica quando ameaçados de morte, por estarem em espaços predominantemente gays ou serem amantes de travestis”.
Foto Reprodução/Folha de São PauloFoto Reprodução/Folha de São PauloFoto Reprodução/Folha de São Paulo
Mais de 60 mil brasileiros são assassinados por ano. Uma parcela das vítimas é LGBT. Haver homofobia não significa que todos os casos tenham sido causados por ela. Não estou dizendo que não há crimes violentos contra LGBT por serem LGBT; estou dizendo é que nem todos os assassinatos de LGBT se dão comprovadamente por isso.
O fundador do GGB ainda disse ao jornal que “a falta de estatísticas oficiais sobre homicídios de gays prova a homofobia governamental”. Acontece que o Brasil carece é de que os homicídios em geral sejam solucionados. Somente 6% dos homicídios dolosos são solucionados no país, de acordo com a Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública.
O próprio GGB diz que a cada quatro homicídios de gays o criminoso foi identificado em menos de 25% das vezes e que menos de 10% das ocorrências resultaram em abertura de processo e punição dos assassinos. É impossível concluir, assim, que todos foram vítimas de homofobia.
O Jornal Nacional deveria se corrigir na edição de hoje, se o jornalismo factualmente verificável prevalecer à militância politicamente correta.
O outro ponto de destaque da entrevista, o que mais repercutiu, decorreu da pergunta sobre a posição de Bolsonaro em relação à diferença salarial entre homens e mulheres.
Bolsonaro, que já havia dito na Globonews ser contra a intervenção do Estado no livre mercado para resolver isso, agora disse que a atual lei trabalhista já garante a igualdade salarial e que cabe ao Ministério Público do Trabalho, não ao presidente, apurar eventuais desigualdades.
Mas Bolsonaro resolveu especular que Renata não ganharia o mesmo que William Bonner, ao que ela respondeu que o salário dela não diz respeito a ninguém e garantiu que, como mulher, jamais aceitaria um salário menor que o de um homem que exercesse as mesmas funções. Embora ambos sejam âncoras, Bonner, editor-chefe, tem posição hierárquica superior à de Renata, que é editora-executiva do telejornal.
E ela faz bem em não aceitar receber menos que homens por funções iguais, porque ela é tão ou mais competente que muitos, apesar da premissa errada sobre um tema delicado. Lutar pelo que merece é certo. É o que toda mulher deve fazer.
Pode-se discutir se Bolsonaro foi deselegante em especular sobre os salários dos entrevistadores, alegando que a Globo recebe dinheiro público, mas o discurso de Renata, embora esteja sendo explorado por todos que rejeitam Bolsonaro, só reforça a posição dele de que não cabe ao presidente intervir no livre mercado.
Porque as mulheres, ao contrário do que prega a militância, são capazes de se afirmar por si próprias, como ela faz.
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