Ouvidor da Polícia Militar pedirá investigação sobre canto de "atirar para matar"

O ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Mariano, se disse perplexo com o vídeo em que policiais militares aparecem em Santos cantando que miram na cabeça e atiram para matar. Ele informou que irá acionar a Corregedoria da PM para que o caso seja investigado.

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O vídeo, que circula nas redes sociais, mostra uma tropa em treinamento na Avenida Ana Costa, no Gonzaga, nesta quinta-feira (30), correndo e entoando cantos. Em um dos trechos, os policiais dizem: "Eu miro na cabeça e atiro para matar. Se munição eu não tiver, pancadaria vai rolar". Se aplicada em confronto, a atitude vai contra as orientações da Polícia Militar, baseadas no Método Giraldi, que prega a preservação da vida. Utilizada desde 1998 pela corporação paulista, a diretriz diz que "não há como escolher pontos de acerto no agressor; dispara-se na direção da sua silhueta". Esse tiro contra o suspeito, conforme a doutrina, "não tem como finalidade matá-lo, mas, fazer cessar sua ação de morte contra a sua vítima". O método prega a mudança de uma cultura de morte, "importada da instrução de tiro das Forças Armadas", para uma "cultura de preservação da vida". Disparos na cabeça costumam ser fatais. "Vou despachar pessoalmente com o corregedor geral e solicitar que a Corregedoria tenha uma atenção para o caso. Este vídeo nos leva a uma reflexão do motivo de a Baixada Santista ter altos índices de letalidade policial", declarou o ouvidor da Polícia. Ele pontuou ter certeza de que esse tipo de preleção não possui apoio do comandante geral da Polícia Militar paulista, Vieira Salles. Questionado sobre o vídeo por A Tribuna, o comando da PM informou que os instrutores responsáveis pela atividade foram afastados da docência e que instaurou procedimento administrativo. "Esse canto é inaceitável do ponto de vista de uma polícia que tem de atuar, quando usar a força, nos conceitos de Giraldi de oportunidade, proporcionalidade, necessidade e qualidade. O canto destoa desses quatro conceitos", declarou Benedito. "Absurdo completo" Especialista em segurança pública, o coronel reformado da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho falou que o canto é um "absurdo completo" e "absolutamente intolerável". "Eu estranhei imensamente porque faz décadas que eu não ouço uma estupidez dessa. Os oficiais que comandam as tropas e os treinamentos precisam tomar cuidado com a mensagem que passam, não só pelo que falam, mas também pela conduta que adotam. Quando você faz isso em público, imagina o que não está sendo feito em ambiente mais fechado". José Vicente destacou que a PM, ao passar a usar o Método Giraldi, adotou o compromisso de só "atirar quando estritamente necessário, sem bravata e sem canto de guerra". "Isso está completamente em desacordo".

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