O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), juntamente com a Advocacia-Geral da União (AGU), entrou com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando que as decisões judiciais que responsabilizam a União e o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) por descontos indevidos de aposentadorias sejam declaradas inconstitucionais. A ação, assinada na quarta-feira (11), abrange fraudes ocorridas entre março de 2020 e março de 2025.
O escândalo do INSS, que veio à tona através de uma série de reportagens publicadas pelo portal Metrópoles a partir de dezembro de 2023, revelou um esquema de descontos irregulares nas aposentadorias de segurados. Três meses após as primeiras denúncias, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, atingindo a marca de R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
As reportagens do Metrópoles foram fundamentais para a abertura de um inquérito pela Polícia Federal (PF) e para o avanço das apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Um total de 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23 de abril. A operação resultou nas demissões do presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
De acordo com nota emitida pela AGU, o objetivo da ação é "garantir o ressarcimento às vítimas dos descontos associativos ilegais em benefícios do INSS". O órgão informou ainda que, desde a revelação do escândalo, houve um "significativo aumento no volume" de ações judiciais relacionadas aos descontos indevidos.
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que há 4,1 milhões de ações previdenciárias em tramitação, enquanto o governo estima que, nos últimos cinco anos, ocorreram aproximadamente 9 milhões de descontos associativos do INSS.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, alertou para a prática de litigância em massa e predatória nos casos envolvendo os descontos irregulares. "É muito importante que seja conferida uma solução célere e definitiva pelo STF, a fim de proteger nossos aposentados, permitir a restituição administrativa de forma eficaz e segura e evitar que milhões de ações sejam ajuizadas para tramitarem por anos e anos no Judiciário", destacou.
A ADPF argumenta que as interpretações que embasam as decisões judiciais são conflitantes, e algumas delas determinam o pagamento em dobro do valor a ser ressarcido. Segundo a AGU, essas decisões são baseadas no Código de Defesa do Consumidor, regras que, de acordo com o órgão federal, não se aplicam ao caso em questão.
A ação movida pelo governo busca uma solução definitiva para o problema dos descontos indevidos em aposentadorias, visando proteger os segurados do INSS e garantir o ressarcimento das vítimas de forma eficiente e segura, evitando a sobrecarga do sistema judiciário com milhões de ações individuais.