Em preparação para a Semana Santa, a cidade histórica de Itapecerica, Minas Gerais, se veste de fé e tradição para celebrar o Setenário das Dores. De 6 a 12 de abril, a Igreja de São Francisco se torna o palco dessa manifestação religiosa com mais de duzentos anos de história, recordando as sete dores de Maria através de ritos solenes, música sacra e a devoção de seus fiéis.
Um Patrimônio Imaterial de Itapecerica
O Setenário das Dores de Maria, reconhecido em 2018 como bem imaterial do município, transcende o tempo, mantendo vivas as raízes do barroco tardio e a profunda devoção mariana. A celebração atrai não apenas os moradores locais, mas também aqueles que, mesmo distantes, retornam à cidade para participar desse momento único de fé e tradição.
A Celebração das Sete Dores
Durante os sete dias que antecedem o Domingo de Ramos, a comunidade se une em oração e contemplação, revivendo os momentos de dor e sofrimento de Maria, mãe de Jesus. A encenação das sete dores é o ponto central do Setenário, conduzindo os fiéis a uma profunda reflexão sobre o sacrifício de Cristo e a compaixão de Maria.
As sete dores de Maria encenadas são:
- Apresentação do Menino Jesus no Templo
- A fuga para o Egito
- Perda do Menino Jesus na Peregrinação a Jerusalém
- Encontro no caminho do Calvário
- A morte de Jesus no alto do Calvário
- Maria recebe o corpo de Jesus em seus braços
- A solidão de Maria após o sepultamento de seu filho
Música, Arte Sacra e Devoção
O ritual do Setenário das Dores é enriquecido por orações, motetos de Dores executados pela Corporação Musical de Nossa Senhora das Dores e um valioso acervo de arte sacra, cuidadosamente restaurado para a ocasião. As 24 imagens que compõem os quadros do Setenário, incluindo um conjunto único em Minas Gerais com sete imagens de Nossa Senhora das Dores, revelam a riqueza histórica e artística da celebração.
A restauradora Katya Helaine Silva, responsável pela revitalização das peças, destaca a utilização da técnica de papietagem em nove imagens, um testemunho da antiguidade e do valor histórico do acervo. A estrutura das imagens com roupas, feita com ripas, facilita o uso em procissões, demonstrando a atenção aos detalhes e a tradição da celebração.
O conjunto restaurado inclui, além das imagens de Nossa Senhora das Dores, representações de figuras bíblicas como José de Arimateia, Nicodemos, o profeta Simeão, São João, São José, Maria Madalena e Maria de Cleofas, totalizando doze imagens femininas e doze masculinas, além de duas imagens do Cristo Morto e uma do Senhor dos Passos.
Semana Santa em Itapecerica: Uma Tradição Centenária
A Semana Santa em Itapecerica é o ponto alto do calendário litúrgico, atraindo moradores e visitantes para celebrar os mistérios da fé em uma atmosfera de profunda devoção e tradição. A celebração, que mantém sua estrutura geral desde meados dos séculos XVIII e XIX, é um legado dos portugueses e um testemunho da identidade religiosa da cidade.
Relatos históricos indicam que, entre 1854 e 1862, sob a liderança do vigário Domiciano José de Oliveira, a Semana Santa já era celebrada nos moldes que se repetem até os dias de hoje, preservando a memória e a fé da comunidade de Itapecerica.
Oração a Nossa Senhora das Dores
“Ó Mãe das Dores, que tanto sofreste ao ver teu Filho flagelado, escarnecido e morto para nos salvar, acolhe nossas preces. Concede-nos verdadeira contrição dos nossos pecados e uma sincera mudança de vida. Nossa Senhora das Dores, que estiveste presente no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo, fica também presente nos nossos calvários. Roga por nós, ó Mãe, porque não és apenas a Mãe das dores, mas também a Senhora de todas as graças e a Mãe da Esperança. Amém.”