A Páscoa de 2025 chega com um sabor agridoce para os amantes de chocolate. O aumento vertiginoso do custo do cacau no mercado mundial, que disparou cerca de 180% nos últimos dois anos, está se refletindo diretamente nos preços dos ovos de Páscoa e em toda a cadeia produtiva do setor.
Crise Global na Produção de Cacau
A alta do cacau se intensificou no segundo semestre do ano passado, impulsionada pela quebra de safra nos principais países produtores da África. A Costa do Marfim, líder global na produção de cacau, enfrenta um cenário preocupante, com ondas de calor e secas severas que afetam o desenvolvimento das plantas e a formação dos frutos. Essa situação, conforme explica Letícia Barony, assessora técnica da Comissão Nacional de Fruticultura da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), leva a uma menor oferta da matéria-prima.
Em Gana, o segundo maior produtor mundial, há uma expectativa de recuperação na produção, com o governo sinalizando um cenário de colheita promissor. Essa possível melhora pode contribuir para um reequilíbrio na oferta global de cacau.
Brasil Aposta no Aumento da Produção
No Brasil, a perspectiva é de aumento da safra de cacau, após quedas consecutivas. O país ocupa atualmente a sexta posição entre os maiores produtores mundiais, com mais de 90% da produção concentrada nos estados do Pará e da Bahia, totalizando cerca de 300 mil toneladas por ano.
No entanto, Letícia Barony ressalta que o mercado ainda apresenta muita volatilidade e incerteza, tanto em relação à oferta quanto à demanda e, principalmente, aos preços dos produtos. Essa instabilidade afeta toda a cadeia de valor, desde a amêndoa de cacau até a disponibilização dos produtos ao consumidor final.
Investimentos e Novas Áreas de Cultivo
A CNA aposta no aumento das safras nos próximos anos, impulsionado pelos investimentos em áreas não tradicionais de cultivo de cacau, como o cerrado baiano, no oeste do estado. Nessa região, o cultivo ocorre a pleno sol, com irrigação e uso intensivo de tecnologias. Além disso, São Paulo e o norte de Minas Gerais também apresentam potencial para expansão da cultura cacaueira, juntamente com a recuperação das lavouras na Bahia e no Pará.
Outra tendência observada é o aumento do processamento do cacau no Brasil, gerando produtos com maior valor agregado tanto para o mercado interno quanto para o externo.
Retração na Produção de Ovos de Páscoa
O setor de chocolates prevê uma retração de cerca de 20% na quantidade total de ovos de Páscoa produzidos em 2025, em comparação com o ano anterior. Apesar dessa diminuição, a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) estima a contratação de pouco mais de 9,6 mil trabalhadores temporários, um aumento de 26% em relação a 2024, com a expectativa de efetivar 20% desses profissionais.
De acordo com a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), os preços dos ovos de chocolate e produtos relacionados (bombons, miniovos, coelhos e barras) tiveram um aumento médio de 14%, enquanto as colombas ficaram 5% mais caras neste ano.
Estratégias para Minimizar o Impacto nos Preços
Para enfrentar o aumento dos custos, o setor tem adotado estratégias como a diversificação do portfólio, com produtos menores e mais variados. Como o chocolate não é um produto essencial, seu consumo pode ser diminuído ou evitado mais facilmente, o que impõe um limite aos aumentos de preço, a partir do qual a demanda começa a cair.
Consumidor Sente no Bolso
O aumento no custo da matéria-prima já é sentido nos produtos, tanto no atacado quanto no varejo. Redes populares já exibem ovos de Páscoa com preços acima de R$ 70, enquanto pequenos produtores precisam pesquisar fornecedores e buscar uma maior variedade de produtos para aproveitar a data, tradicionalmente a melhor do ano para os chocolateiros.
Diante desse cenário, o consumidor precisa estar atento e pesquisar para encontrar as melhores opções e não deixar de celebrar a Páscoa, mesmo com os preços mais salgados.