Risco Iminente de Paralisação: Anfavea Alerta para Escassez Crítica de Chips e Pede Ação Urgente do Governo Federal

Brasília, DF – A indústria automotiva brasileira está à beira de uma nova crise de produção. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) emitiu um alerta nesta quinta-feira (23) sobre a “escassez crítica de semicondutores”, um cenário que, segundo a entidade, pode forçar a paralisação das linhas de montagem de diversas fábricas de veículos em questão de semanas.

Em uma nota oficial de forte teor, a Anfavea compara a atual situação de desabastecimento de chips àquela enfrentada no ápice da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, que causou longos períodos de interrupção na produção e atrasos significativos nas entregas de automóveis novos.

 

A Origem Geopolítica da Nova Crise

 

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A associação detalha que o novo gargalo na cadeia de suprimentos de semicondutores tem raízes em uma escalada de disputas geopolíticas internacionais. A crise mais recente foi deflagrada após o governo holandês ter assumido o controle da fabricante Nexperia, uma das gigantes do setor de semicondutores que opera no país e que é subsidiária de um grupo chinês.

"A nova crise dos chips se deve a disputas geopolíticas intensificadas neste mês, depois que o governo holandês assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país, subsidiária de um grupo chinês", explica o comunicado da Anfavea.

A resposta da China a essa movimentação foi imediata e impactante: a imposição de restrições à exportação de componentes eletrônicos. Essa medida já está afetando diretamente a produção de veículos na Europa e, de acordo com a Anfavea, "arriscando parar montadoras no Brasil".

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Impacto Tecnológico e Econômico

 

O alerta da Anfavea evidencia a complexa dependência da indústria moderna pelos semicondutores. A entidade ressalta que "um veículo moderno usa, em média, de mil a 3 mil chips" para gerenciar desde sistemas de injeção e segurança (ABS, airbags) até funcionalidades de conforto e entretenimento. "Sem esses componentes, as fabricantes não conseguem manter a linha de produção em andamento", afirma a associação.

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O presidente da Anfavea, Igor Calvet, reforçou o pedido de urgência, destacando o grave risco para a economia nacional: "Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental que se busque uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda. A urgência é evidente, e a mobilização se faz necessária para evitar um colapso na indústria".

 

O Elo Frágil do Brasil na Cadeia Global

 

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A vulnerabilidade do Brasil nesse cenário é acentuada pelo fato de o país importar praticamente a totalidade dos semicondutores que utiliza. Muitos dos fornecedores internacionais do setor automotivo brasileiro dependem da Nexperia e de outras empresas afetadas pelas recentes restrições. A crise, portanto, é um reflexo direto e rápido dos conflitos comerciais e tecnológicos internacionais na produção doméstica.

A crise dos chips, cujo componente básico é frequentemente o silício, transcende o setor automotivo, atingindo uma "gama de segmentos industriais que dependem desses componentes", conforme alertou a Anfavea.

 

Apelo ao Governo Federal e a Agenda Asiática de Lula

 

Diante da gravidade da situação, a Anfavea afirma já ter alertado o governo federal para que "tome medidas rápidas e decisivas para evitar o desabastecimento".

O apelo do setor ocorre em um momento crucial: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou uma viagem oficial de seis dias à Ásia (Indonésia e Malásia) na última terça-feira (21). Há uma forte expectativa na indústria de que a crise dos semicondutores e a busca por soluções na cadeia de suprimentos sejam abordadas pelo governo brasileiro durante sua agenda diplomática no continente.

A crise revela uma "guerra global" por minerais críticos, essenciais na fabricação de chips e baterias, e que está sendo capitaneada por grandes potências como Estados Unidos, China, Japão e nações europeias. A dependência global da China na produção desses minerais é um fator de risco, já que o país asiático detém cerca de 70% da mineração de terras raras, mais de 90% do refino e quase 100% da produção de ímãs permanentes, componentes vitais para a tecnologia moderna. A atuação do Brasil no cenário internacional é vista como chave para mitigar os riscos dessa interdependência.

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