Nas cidades administradas por mulheres, a cobertura dos serviços de saúde é mais eficiente do que naquelas lideradas por homens. Elas têm mais chance de serem eleitas prefeitas em municípios de menor porte, mais pobres, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. É o que mostra tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFMG.
A autora da pesquisa, Mariana Cockles, analisou o efeito da liderança de mulheres em prefeituras brasileiras com base em dois indicadores (saúde e saneamento) no período de 2000 a 2018. Segundo a pesquisadora, estudos anteriores demonstram a expectativa social de que mulheres com poder de liderança na política sejam mais atuantes nas esferas do cuidado, o que explica o bom desempenho delas na área da saúde. Um exemplo dessa associação é o maior investimento das gestoras na atenção à saúde materna.
Por outro lado, na área do saneamento, o desempenho das mulheres foi semelhante ao dos homens à frente do poder executivo municipal. “No Brasil, as obras subterrâneas terminam sendo menos acompanhadas pela população, são menos reconhecidas e geram menor retorno eleitoral, portanto tendem a ser preteridas. Eleitoralmente, é muito mais vantajoso fazer um viaduto do que uma canaleta que vai reestruturar o escoamento do esgotamento sanitário de uma cidade”, analisa Cockles.
'Familismo'
Com relação à predominância das prefeitas em municípios de menor porte, uma das explicações é a herança da carreira política, que a autora chama de “familismo”. “Muitas vezes, candidaturas de mulheres têm espaço para nascer desse familismo, seja pela continuidade de uma família ou partido no poder, por oportunidade, pela força ou pelas redes sociais locais”, diz.
A pesquisa revela, ainda, que mulheres participam menos de esquemas de fraude na política e tendem a priorizar a diversidade na formação de suas equipes.