Minas Gerais é o segundo maior produtor de tilápia do Brasil e a maior parte da produção no Estado está concentrada na represa de Três Marias.
 

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No período em que as vendas do peixe deveriam subir, por causa da Quaresma, piscicultores da região amargam queda de 25% em relação ao mesmo período do ano passado. Motivo: após a tragédia de Brumadinho, muitos consumidores têm ficado receosos com a possível chegada dos rejeitos da barragem da Mina do Córrego do Feijão, por meio do rio Paraopeba, até a represa, localizada na região Central do Estado.
Em média, os produtores de Felixlândia tiveram de baixar de R$ 1 a R$ 2 por quilo o preço do peixe in natura, hoje comercializado entre R$ 3 e R$ 6. “Teve notícia falsa circulando por mensagens de que o peixe estaria contaminado, mas o monitoramento feito pelos órgãos competentes mostra que a lama de Brumadinho não atingiu o reservatório de Três Marias”, afirma Vanderli de Carvalho, prefeito de Felixlândia.
Segundo informativo publicado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente em parceria com a Agência Nacional de Águas, no dia 9 de abril, sobre o monitoramento da qualidade da água entre Brumadinho e o rio São Francisco, "os dados obtidos até o momento indicam que não houve alteração na qualidade da água que possa estar relacionada à algum impacto no reservatório de Três Marias decorrente do rompimento da barragem B1".
O produtor Eduardo Raguido vendeu 12 toneladas de peixe no período da Quaresma do ano passado, mas, neste ano, no mesmo período, o volume deve fechar em oito toneladas. Em vez de baixar o preço, ele preferiu reduzir a produção. “Estamos alimentando o peixe num ritmo mais lento, para crescer no momento certo. Mas o peixe não pode ficar grande demais, se não perde a qualidade”, explica o produtor, lembrando que o aumento no volume da represa – hoje com 78% da capacidade – é bastante propício para a piscicultura.
Campanha junto à clientela
Até em Belo Horizonte, houve uma queda pela procura do peixe produzido na região da represa. Na peixaria Minas Tilápia, localizada no bairro Castelo, na Pampulha, verificou-se uma queda de 30% na venda do pescado em comparação com a Quaresma do ano passado. Por isso, a empresa decidiu enviar aos clientes um documento do Ibama que mostra que não há contaminação na região onde está localizado o seu criatório de tilápia, em Morada Nova de Minas.
“Muitas vezes, os clientes acreditam em informações falsas e não nos perguntam nada, preferem apenas trocar a tilápia por um peixe de água salgada. Por isso, temos nos antecipado e enviado o documento para todos os grandes clientes”, afirma Rafael Evangelista, gerente da Minas Tilápia.
Atualmente, o preço médio do quilo do filé da tilápia em BH  é R$ 30,54, segundo pesquisa do portal Mercado Mineiro, uma queda de 3,93%  em relação à Quaresma do ano passado.
Cadeia de produção
O quilo da tilápia custa, em média, entre R$ 3 e R$ 6 no produtor. Mas nas peixarias da capital, o filé do peixe sai por R$ 30, em média. Por que uma difrença tão grande? O produtor Eduardo Rasguido, que foi pesquisador da Emater-MG por 40 anos, explica que há muitas variáveis nesse processo.
“Para produzir um quilo de filé, preciso de seis quilos de peixe. Ou seja, se o quilo do peixe for vendido por R$ 3,00, precisarei de R$ 18 para produzir um quilo de filé. E ainda tem o custo da embalagem, do transporte, da câmara frigorífica. À medida que conseguirmos fracionar o peixe e aproveitá-lo melhor, ele chegará mais barato ao consumidor”, afirma o pesquisador.
Segundo ele, a tilápia tende a crescer na preferência dos consumidores por ser saudável, sem espinhas, sem cheiro forte e fácil de ser temperada.