Com pesquisa, entrevistas e projeto editorial assinados por Elias Gibran, Viviane Maroca e Pedro Kalil, o livro conta a história de Tizumba de uma forma gráfica e não linear. “Eu não gostava dessa ideia de escrever sobre mim. Sempre achei biografia um negócio para quem já está morto”, brinca Tizumba, hoje aos 60 anos, explicando o título da obra.
“Participei do filme ‘DNA África’, em 2016, que mostra como eu descobri que minha descendência é de Camarões e, a do Pererê, de Angola. O Gibran já tinha essa ideia do livro, aí resolvemos fazer. Não coube tudo, ficou muita coisa de fora. Mas deu para falar de música, teatro, dança, candomblé, igreja, congado. Tudo misturado, sem começo, meio e fim, até porque eu sou assim”, reflete.
Assim, nas 224 páginas do livro, a infância de Tizumba e sua formação sócio-cultural-filosófica-espiritual misturam-se, em meio a fotos, rabiscos e bilhetes, com histórias de sua caminhada artística na televisão, no teatro, nos bares e ruas de Belo Horizonte. “A música vem de criança, porque eu já era envolvido com o congado e o candomblé. Na infância, nas escolas e na televisão, eu cantava artistas negros como Agnaldo Timóteo, Jorge Ben e Simonal. Foi só nos bares que eu vi que podia misturar, no meu trabalho, influências das religiões de matriz africana”.
O começo da carreira nos bares – cujos bilhetes que recebia enfeitam o livro – são destaque para o artista mineiro. “O bar, para mim, é tudo. É o que deu o start na minha carreira. No bar, você não é o centro das atenções. As pessoas estão ali para namorar, beber, comer e, depois, pela música. Mas como minha música sempre foi muito performática, consigo subir uns graus nessa escala”, pontua. “Eu comecei a trabalhar para ser notado, não só para ser assistido. Queria que as pessoas vissem que ali tinha uma coisa diferente. E elas viam”.
Criador do grupo Tambor Mineiro e da companhia de teatro Burlantins, Tizumba dá peso igual para suas frentes artísticas. “Tudo sempre caminhou junto”, sublinha o artista, que conta com cinco discos de estúdio e já gravou mais de 30 atrações televisivas e cinematográficas, entre filmes e minisséries. Mas e o congado, também está no mesmo lugar? “O congado é outra coisa. É o pulso da minha história. Tem outro sentido, espiritual, de fé”, ressalta, refutando o posto de guardião. “Que toma conta do congado são os próprios congadeiros. Por eu ser artista e congadeiro, talvez eu dê visibilidade, mas quem cuida são eles, com sua forte fé em Nossa Senhora do Rosário. Até porque nunca quis tornar o congado um espetáculo. É sagrado”, diz.
MULTIFACETADO – Marcada pelas religiões de matriz africana, a história de Tizumba se divide em diferentes frentes artísticas
HISTÓRIA – Foto mostra Maurício Tizumba em Ouro Preto, em 1975, ano em que começou a tocar e cantar em bares
CÊNICAS – Para Tizumba, o teatro sempre caminhou lado a lado com a música e a dança