Vítima percorreu várias delegacias, mas teve como retorno que a representação só poderá ser feita na segunda-feira (19 de setembro); 'Ele não pode ficar solto como está', desabafa
Aflita, ansiosa, tensa, ainda com medo e muita sede de Justiça. Foi assim que a faxineira Lenirge Alves de Lima, de 50 anos, seguiu, acompanhada do filho e da nora, para representar a queixa contra o homem que a agrediu com uma mangueira enquanto ela trabalhava no bairro de Lourdes, na região Centro-Sul da capital na sexta-feira (16). Após percorrer algumas delegacias de Belo Horizonte, ainda com os joelhos machucados pela violência sofrida, a vítima foi informada que o atendimento para casos como o dela ocorrem apenas em dias úteis. Ficou para segunda-feira a formalização da denúncia e o agressor ainda está solto. Mas a esperança dela de que o algoz vai pagar em algum momento não foi apagada pela trava burocrática: “Vou denunciar este psicopata, aquele infeliz. Vou fazer de tudo para ele ser punido. Quero que a polícia faça o possível para ele pagar o que fez comigo", diz. "Ele não pode fazer uma coisa dessas e ficar por isso mesmo. Ele não pode ficar solto como está", completa.
O depoimento foi dado à reportagem neste sábado (17 de setembro), um dia após o crime, no caminho entre o Juizado Especial Criminal, no bairro Padre Eustáquio, até a Central de Flagrantes da Polícia Civil, na rua Conselheiro Rocha, no bairro Floresta, na região Leste da capital. Lenirge, que viralizou e causou comoção nas redes com o vídeo em que mostra o momento exato do homem a agredindo, ainda está sem entender como pôde passar por essa situação à luz do dia, enquanto buscava o sustento honestamente, e em um local tido como seguro da capital. Ela conta que mora em Vespasiano, na região metropolitana de BH, e, há 17 anos, faz o mesmo trajeto para o trabalho, mas nunca passou por nada parecido. “Eu tinha medo de assalto, de bandido, mas o que se vê é que tem bandidos que moram nos melhores bairros, né?”, afirma indignada. “Agora, eu fui agredida por um indivíduo que eles falam que 'é do bem', que mora em um lugar nobre. Nunca imaginei ser agredida por uma pessoa dessas", desabafa.
Pelas imagens captadas por um circuito de segurança é possível ver detalhes do que ela passou. Não satisfeito em tomar com violência extrema a mangueira que ela usava para lavar a calçada, o homem ainda a derrubou no chão e a molhou. Ela narra que ainda sente dores no joelho em função da queda e que chegou a pensar no momento em que foi jogada no chão que as agressões poderiam piorar naquele momento.
Um medo que a impediu de dormir à noite, como conta: "Estou sentindo um medo ainda, né? Do que aconteceu. Essa noite eu nem dormi. Estou cansada, chateada, revoltada, me sentindo muito mal". O amparo da família tem sido fundamental para ela. Lernirge descreve que tem recebido muito apoio também de pessoas desconhecidas pelas redes sociais. E diz esperar que o agressor, a quem ela classifica como bandido, seja preso. "Se fosse com a mãe dele, eu tenho certeza que ele estaria correndo atrás do direito dele. Do jeito que ele fez comigo, não quero que ele faça com nenhuma outra pessoa. Porque ele vai encontrar ainda muita faxineira cuidando de condomínio ", desabafa.
O filho dela acompanhou a entrevista enquanto dirigia. Pelo retrovisor, ele não escondia a cara de revolta diante da humilhação vivenciada pela mãe. Indignado, preferiu não se pronunciar e nem ser identificado. Ele só disse acreditar que, caso o tio dele (irmão da vítima) que também trabalha no condomínio estivesse no local, isso não teria ocorrido. "Na presença de outro homem eles não fazem isso não", finaliza a mãe.
A reportagem demandou a Polícia Civil sobre a dificuldade da vítima de fazer a representação e aguarda retorno.