Tráfico corta cabos de operadoras e impõe sua internet em São Gonçalo no RJ

Rio - 'Sabemos que você está sem conexão desde o dia 28 de agosto. Isso ocorreu devido a um ato de vandalismo que danificou a caixa que distribui a internet até sua casa. Infelizmente, por impossibilidade de acesso ao local, para realizar a manutenção da caixa, não será possível seguir com o seu serviço. Lamentamos profundamente o ocorrido'. Esse é um trecho da mensagem enviada pela TIM, que está suspendendo o serviço de internet em alguns bairros de São Gonçalo, como Salgueiro, Boaçu, Patronato, Paraíso, Gradim, Porto da Pedra e adjacências. O motivo? Segundo moradores, traficantes ligados à facção criminosa Comando Vermelho (CV) estariam obrigando a população a aderir a uma 'internet' gerenciada pelos bandidos. A audácia está prejudicando cerca de 110 mil pessoas, coagidas a aceitar o serviço ilegal.

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"O pagamento é feito em dinheiro e vai direto para eles (traficantes). Estão dominando tudo aqui na região, não deixam mais as empresas trabalharem nos bairros. Infelizmente é essa a realidade que vivemos em São Gonçalo", reclama um morador do Gradim.
Os pacotes de internet oferecidos pela organização variam em velocidade e preço. Além de cartazes espalhados pelas ruas, funcionários da 'empresa' fazem o serviço boca a boca, indo nas portas das casas entregando panfletos.
De acordo com moradores, as pessoas flagradas cortando os fios e destruindo as caixas de internet são as mesmas que oferecem a prestação de serviço logo depois.
Em nota, a TIM respondeu que "no dia 22/08 seus serviços de ultrabanda larga fixa foram interrompidos devido a um ato de vandalismo" e que "técnicos da operadora tentaram, por diversas vezes, efetuar o reparo, mas não foi possível acessar o local".
Já a Oi informou que "questões de segurança pública que possam afetar a prestação dos serviços da companhia são comunicadas às autoridades para que as devidas providencias sejam tomadas".
Bandidos buscam novos lucros
A região que divide os bairros Paraíso, Porto da Madama, Mangueira, Porto da Pedra, Porto Novo, Porto Velho, Patronato e Gradim é cercada pelo tráfico de drogas. Assim como o Salgueiro e o Boaçu, as favelas estão sob o domínio da maior facção criminosa do estado. As duas principais rendas são a venda de drogas e roubos de cargas.
Por conta das constantes ações policiais, há tempos o tráfico vem buscando outros ramos de atuação para faturar, como venda de gás e exploração de internet ilegal.
Um capitão da PM, que atuava pelo Batalhão de São Gonçalo, diz que "o tráfico já vem fazendo isso há um bom tempo, em São Gonçalo. Está tirando a internet dos bairros e obrigando os moradores a usar apenas a internet ilegal, que é oferecida pelos bandidos. Isso acontece há tempos. Na época, a gente fiscalizava os locais que eram denunciados e apreendia os materiais.
Dois inquéritos investigam a atuação da quadrilha nos bairros
Fontes da Polícia Civil revelam que, há pelo menos quatro meses, dois inquéritos que correm em sigilo estão abertos na 72ª DP (Mutuá) para investigar empresas que atuam nos bairros do Salgueiro e Boaçu. "As pessoas envolvidas com essas empresas já foram intimadas a depor", diz a fonte.
Já o atual comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tenente-coronel Gilmar Tramontini da Silva, disse não haver denúncias contra empresas de internet que, supostamente, financiam o tráfico de drogas, desde a sua chegada ao batalhão, em julho deste ano.
O Ministério Público do Estado informou que as denúncias podem ser feitas, de forma sigilosa ao órgão. De acordo com o MP, as vítimas devem recorrer ao órgão de segurança mais próximo de suas residências.
Na prática, há certas ações que podem ser feitas pelos clientes.
A advogada Ingrid Almeida, especialista em Direito do Consumidor, explica como agir para buscar seus direitos com as operadoras: É importante que os clientes registrem uma reclamação junto às operadoras responsáveis.
O próximo passo é buscar uma solução diretamente com a Anatel. Isso porque, atualmente, a internet já pode ser considerada um serviço essencial.
Uma outra opção é entrar com ação na Justiça. Em alguns estados, é possível encontrar ações civis públicas com o objetivo de garantir o acesso aos serviços. Nesses casos, a tese defendida aborda o princípio da universalização, pois não é razoável que, em uma determinada localidade, alguns moradores sejam atendidos e outros não.
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