Atolados em dívidas: índice de quem não consegue honrar compromissos dobrou em BH

A crise econômica, que minou os empregos e reduziu o poder de compra da população, fez com que a quantidade de belo-horizontinos que não conseguem pagar as contas mais do que dobrasse. Em junho deste ano, 13,9% dos endividados não honraram os compromissos financeiros. No mesmo mês do ano passado, o índice era de 6,3%. A matéria continua após a publicidade Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio - MG). Enquanto a incapacidade de pagamento cresce, o endividamento tem registrado retração. Em junho do ano passado 65% da população de Belo Horizonte possuía alguma dívida. No mês passado, o índice caiu para 60,7%. A redução do endividamento indica retração econômica, conforme afirma o coordenador do departamento de economia da Fecomércio, Guilherme Almeida. “O endividamento é um termômetro da economia e da oferta de crédito. Endividar-se é saudável. O problema é quando o endividamento se transforma em inadimplência e incapacidade de pagar as contas, como vem acontecendo”, diz. Desemprego Ele destaca que apesar de a recessão ter chegado ao fim, o desemprego continua forte. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de desemprego no Brasil no trimestre encerrado em maio foi de 12,7%. Isso significa que 13,2 milhões de pessoas estão desempregadas. O número é menor do que o registrado no trimestre anterior, quando 12,9% das pessoas procuravam emprego. O problema é que a qualidade dos postos de trabalho ocupados é baixa. “Muitas dessas pessoas foram para a informalidade e têm renda menor do que antes. Por isso, elas não conseguem manter as contas em dia”, afirma. Como reflexo, o crédito fica escasso e o consumidor perde o apetite por novas aquisições, reduzindo a circulação do capital, afetando diretamente o comércio e o segmento de serviços. Sem saída Proprietária de um bar, a aposentada Arminda Maria não vai conseguir arcar com a conta de água deste mês. O motivo é a redução na renda, reflexo da queda no movimento do estabelecimento. Embora essa seja a única conta em aberto, ela não sabe quando conseguirá quitá-la. Já a estudante Elis Oliveira ainda não sabe se vai conseguir arcar com a fatura do cartão de crédito do mês. “Perdi o emprego e estou esperando uma pessoa me pagar para quitar o cartão. Se essa pessoa não acertar as contas comigo, não sei como vou fazer”, lamenta. Vilões O cartão de crédito, aliás, é a principal motivo de endividamento do belo-horizontino. Conforme o levantamento da Fecomércio-MG, 79,4% das pessoas entrevistadas devem às operadoras do dinheiro de plástico. Financiamento de veículos aparece em segundo lugar, com 19,8%. Depois, vem o crédito pessoal, com 11,7%, seguido pelos carnês, com 10,5%. Na cidade, as contas em atraso aumentaram de 23,6% em junho do ano passado para 26,1% no mesmo período deste ano. Em média, o consumidor demora 72 dias para honrar o compromisso financeiro. Perfil Das famílias que residem em Belo Horizonte, 26,1% possuem algum compromisso financeiro em atraso. O índice é maior entre as famílias com renda igual ou maior a 10 salários mínimos e chega a 27,4%. Nas residências cuja renda familiar é superior a 10 salários, o atraso nas contas está em 17,8%. Inadimplente deve priorizar débitos com custo mais alto O consumidor precisa ficar atento para não transformar as contas em uma verdadeira bola de neve impagável. Conforme o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, a primeira dica é colocar os débitos em ordem de importância. “Deixar de pagar financiamento de casa e carro é muito grave, porque você pode perder o bem. Essas contas devem ser as primeiras a serem quitadas”, afirma Salvato. Colocadas em ordem de prioridade, os juros devem ser analisados. Dessa forma, é necessário trocar as dívidas com custo mais alto por empréstimos mais baratos. Por isso, o fato de 79,4% dos endividados deverem ao cartão de crédito, segundo o coordenador do curso de economia do Ibmec, assusta. O motivo é simples. O juro do cartão de crédito é o mais alto da carteira financeira e bate 243% ao ano. “Se a pessoa não pagar o cartão de crédito, no mês seguinte a conta vem maior. Porém, é imprescindível que quem deve ao banco vá ao gerente para negociar a dívida, que tem taxas altíssimas”, destaca. Uma sugestão do especialista é contratar uma linha de crédito pessoal, que costuma ter custo menor. “É necessário planejamento e educação financeira para não se afundar em dívidas”, alerta.
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